O treinador e a crise viral - O treino na área comportamental, algo de imprescindível!

O treino na área comportamental de atletas e treinadores, deve integrar tudo o que se refere à corporeidade e motricidade dos seres humanos. Também centrar-se num corpo expressivo e em movimentos que não devem ser entendidos como simples gestos ou deslocamentos, mas sim como uma abertura dinâmica ao mundo que nos rodeia.

O ato de perceber e o Comportamento, incorporam tudo aquilo que lhes é fornecido pelos órgãos dos sentidos e a experiência de perceber abre-se ao ser numa dimensão sensitiva que não deve ser dissociada da função motriz, (motricidade). Coexiste com o mundo em que se insere e faz dele um meio de Comportamento.

“Vemos um propósito humano nos movimentos da pessoa… A consciência ou subjetividade não é algo que está por detrás do pano, escondida da visão de todos os demais; ao contrário, está manifesta nos movimentos… a subjetividade é incorporada… as minhas ações são como uma linguagem que tem de ser interpretada.”

Ou seja, a sensação dos movimentos confunde-se com a sua realização e a motricidade e o corpo expressivo são movimentos de existência.

Atletas ou treinadores ganham assim consciência do mundo que os rodeia de um modo quase sempre pré reflexivo e inconsciente.

Como qualquer ser humano, são seres do mundo, que interagem com a realidade em que se inserem como verdadeira fonte absoluta, para quem, “O mundo… não é algo que meramente pensamos, mas o lugar onde vivemos as nossas vidas, o mundo em que atuamos, sobre o qual temos sentimentos e esperanças, além de ser o mundo que tentamos conhecer.”

No fundo, atletas e treinadores existem como sujeitos através das suas relações com tudo aquilo que os rodeiam e de uma intencionalidade entendida como motricidade. E ser atleta ou treinador é ser humano, logo, é ser-no-mundo. Ora, ser-no-mundo significa consegui-lo a partir das experiências entretanto vividas que se constituem como fonte absoluta do significado da sua existência. Como produto de uma subjetividade incorporada, o Comportamento de atletas e treinadores tem assim, nas ações que vão empreendendo um claro propósito e significado. Sendo por isso uma forma de lidar com o seu mundo, as coisas e os outros, enquanto seres ativos com necessidades que os levam a desencadear determinado tipo de ações. Um Comportamento direcionado, verdadeira intencionalidade operante, motivado por um significado interior e sempre com um claro propósito humano, produto da sua subjetividade incorporada. E, tudo isto numa complexa interação entre perceção/consciência, corporeidade e cultura.

No decurso das suas experiências de vida e numa constante abertura ao mundo, manifestam-se através de um designado arco intencional que representa a unidade existente entre o seu corpo próprio e a sua consciência, facilitando assim a compreensão das experiências entretanto vividas.

Estamos assim perante uma filosofia do percebido e do sensível, em que a perceção e a consciência percetiva de atletas e treinadores se apresentam como fundamentais e a sua perceção e as suas sensações requerem ser entendidas como o que lhes permite estar e ser-no-mundo. Uma perceção enquanto experiência fundamental, entendida como a estrutura originária, sistema dos sistemas, em total abertura ao mundo e totalidade vivida. Tudo isto num corpo vivido cuja perceção, enquanto envolvimento prático com a realidade, não trata só de lhes permitir perceber a realidade mas, principalmente, de constituir um modo de acesso ao mundo e de lidarem com as coisas que os rodeiam.

Um corpo vivido que, através dos seus órgãos e funções sensoriais, se adaptam ao mundo de forma extremamente flexível. “Viver no mundo vem antes do pensamento consciente sobre o mundo: a experiência básica é pré-reflexiva, a reflexão diz respeito ao que é pré-reflexivamente dado.”

Um Comportamento de que “só podemos propriamente falar… se encararmos os movimentos físicos como sendo causados não por algo externo à pessoa envolvida nele, mas motivados por um significado interior e subjetivo, que nasce da própria visão interior que a pessoa tem do mundo”

Atletas e treinadores dialogam com o mundo e interagem expressivamente com as coisas e os outros, utilizando a visão, a fala, a audição, o tato e o paladar.

No que respeita à Visão, importa reconhecer a simultaneidade da sua subjetividade e capacidade ontológica. Mesmo reconhecendo que tudo o que é visível comporta em simultâneo algo de invisibilidade, (a referida cegueira da visão), enquanto seres do mundo, atletas e quadros de empresas quando olham e procuram ver o que os rodeia, suprem essa limitação através da sua motricidade. Naturalmente, também se expressam e comunicam através das palavras que proferem, não só compostas por vocábulos, mas também reforçadas pelo tom de voz que utilizam, os gestos que fazem, a fisionomia que apresentam a cada momento. Entretanto e de modo complementar, carregam ao comunicar, todo o seu passado de experiências, crenças, inseguranças, etc.

A experiência do seu corpo próprio e vivido, pode assim permitir-lhes receber a influência do mundo e, igualmente, influenciá-lo. Enquanto seres humanos, estão dialética e dinamicamente abertos aos outros e às coisas, numa relação continuada baseada no poder cinético do seu corpo próprio que conforme referimos atrás, em simultâneo, consegue ser vidente e visível. Conhecem afinal o mundo exterior através do seu corpo próprio e nele vão incorporando todas as suas experiências. Ao defender que qualquer objeto de que tenham consciência, é um objeto intencional, situamos a consciência de atletas e treinadores muito para além dos conceitos tradicionais. A nossa consciência é intencional sempre que se refere a alguém ou alguma coisa, considerando-a então como consciência de algo ou intencionalidade da consciência.

Através da sua perceção, atletas e treinadores atribuem assim sentido às experiências que efetuam, estando hoje claro que não é através das relações científicas que percebem e entendem o mundo e os outros, mas sim por via das expressões de sentido emocional e afetivo com que se relacionam com eles.

Adaptando-se à vida incorporando-a através de uma perceção que vai muito para além da cognição pois apresenta-se como uma verdadeira dialética humana e vital.

 

Jorge Araújo | presidente da Team Work Consultores

 

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