«Há muito trabalho de observação»
Assume “com grande entusiasmo e empenho máximo” a liderança da Seleção sub-16 masculina e já teve a oportunidade de fazer um primeiro contacto, num estágio de observação.

Seleções | Treinadores
31 DEZ 2014
Mas o técnico, atual coordenador da formação e treinador da equipa sénior do Barreirense, quer trabalhar numa base de futuro e pretende referenciar com exactidão os jogadores que existem no país dentro destas idades.
Agradado e motivado com este convite para fazer parte da nova equipa técnica da Federação Portuguesa de Basquetebol?
Claro. Não há treinador que não se entusiasme e motive por trabalhar na equipa técnica do seu país. O convite que me foi dirigido é no sentido de fazer parte de um todo que se pretende impulsionador deste novo ciclo do basquetebol nacional. Por si só, é um motivo de grande entusiasmo e empenho máximo. Para além disso, treinar uma Seleção Nacional representa a possibilidade e responsabilidade de trabalhar com os melhores dentro de um nível de prática, perceber as diferenças que temos para os nossos pares na Europa. É evidente, são razões de grande entusiasmo e motivação para o trabalho.
Concorda que tem pela frente um grande desafio, e a “responsabilidade” de começar a influenciar e orientar os jovens talentos portugueses?
Tenho encarado a minha de vida de treinador como um desafio permanente. Este desafio não é exceção. É mais um extraordinário desafio. Os Sub-16 são a primeira possibilidade de um grupo de jovens representarem na Europa uma equipa verdadeiramente Nacional. Para estes jovens é quase tudo uma novidade. Já constatei a dificuldade que nos espera. Há um trabalho de observação vasto por fazer e trabalhar no máximo das nossas competências para influenciar aqueles que irão passando pelas concentrações ao longo da época. É para isso que cá estou, para trabalhar com os jovens, ajudá-los a resolver os problemas que vão demonstrando e contribuir para que possam jogar a um nível mais elevado. Os anos de treinador que levo permitem-me dizer que conheço bem esse trabalho, tenho-o desempenhado noutros contextos.
Quais lhe parecem ser as principais carências dos jogadores nestas idades?
Não seria difícil listar uma boa meia dúzia de carências. Mas há duas que saltam à vista: o lançamento e a intensidade com que se joga. Trabalhámos esta semana com jovens que alguns deles revelam dificuldades na realização do lançamento, desde a pega da bola ao trabalho dos apoios, passando pelo desarme da mão lançadora. Já para não falar na realização do lançamento associado ao jogo sem bola ou na ligação ao drible. Temos de fazer um esforço coletivo por resolver os problemas do ensino do lançamento desde cedo, por forma a que possamos ter sub-16 que comecem a pensar em eficácia. Não podemos ir para um Campeonato da Europa sem pensar em eficácia, em meter a bola no cesto. E esta é uma dificuldade que todos os jovens de momento apresentam. Repito, o lançamento tem de ser treinado desde cedo, e contribuir para que um Sub-16 comece a pensar em eficácia. O problema acresce quando nos obrigam a decidir e a executar mais rapidamente. É isto que entendo por intensidade. Neste capítulo sinto que os nossos jovens jogam a um nível de intensidade muito baixo. Jogam a passo, abusam do drible, usam-no sem ofensividade. Se os deixarmos, defendem sem pressionar. Percebe-se que baseiam as suas ações defensivas mais pelo demérito que o ataque possa ter, do que por uma ação de mérito da sua própria defesa, com pressão e presença defensiva. A ideia é deixar falhar, ao contrário de condicionar para obrigar ao erro. Na Seleção de Sub-16 quero inverter esta tendência. É uma atitude que pode até ajudar a ganhar alguns jogos, mas tem custos na formação dos jogadores. Julgo que temos de resolver isto depressa, se quisermos jogadores com mais qualidade.
Já definiu o que pretende da seleção masculina mais jovem enquanto estiver no seu comando técnico?
Já defini linhas gerais da formação da equipa enquadrada numa ideia que tem de existir que é a de Jogador de Interesse Nacional. Isso é o que de momento me parece ser prioritário. Neste momento, estamos a trabalhar no desenvolvimento desta ideia, e como dizia antes, há muito trabalho de observação e contacto a efetuar de Norte a Sul, sem esquecer a Madeira e os Açores, de modo a referenciar com exatidão os jogadores que temos nestas idades. Só depois de percebermos com exatidão o que temos, definiremos aspetos táticos mais específicos e definitivos. Sem pressas, vamos concluindo cada etapa.
Quais os objetivos definidos para este primeiro estágio de observação, bem como a participação no torneio internacional?
Este foi o 1º estágio que como o nome indica é um estágio de observação do que temos referenciado do passado. Antes de avançar, importa conhecer bem o que temos como referencia anterior. Tivemos dois objetivos nesta concentração: introduzir alguns conceitos básicos de ataque para aferir o nível de qualidade tática dos jogadores e observá-los a competir, beneficiando do convite que nos fizeram para a participação do V Torneio Internacional Pedro Raimundo. Saímos deste estágio com uma posição muito concreta sobre os jovens que participaram e a partir daqui vamos dar passos que estendam o campo de recrutamento de forma a conseguirmos ter uma Seleção Nacional tão competitiva quanto possível no próximo verão.
Que imagem pretende de uma seleção nacional treinada por si dentro do campo?
O trabalho realizado nesta concentração teve três ideias fortes que estiveram presentes nos cinco treinos que realizámos: 1) “queremos correr”, 2) “atacar o cesto sem receio” e 3) “não deixar o ataque pensar”. Claro que isto são apenas ideias fortes. Têm de ser especificadas em comportamentos que nos façam jogar tendo o contra-ataque sempre em presença, que nos façam ter no 1×1 uma arma que todos os jogadores têm de ter e que, individual e coletivamente, consigamos defender mantendo o ataque sobre pressão e longe do nosso cesto – condicionando a bola, as 1ªs linhas de passe, o passe interior, as mudanças de lado da bola. No fundo, isto é o que penso ser essencial no jogo dos Sub-16. Lutarei para que no final desta campanha tenhamos uma Seleção competitiva, que dispute todos os jogos com estas marcas bem vincadas no seu jogo.