Diário do Euro: the end of the road to Riga

Os Linces já estão em Riga para o EuroBasket 2025

Seleção Nacional Masculina | Seleções
24 AGO 2025

Não estive em Sevilha 2007. Nem na Lituânia em 2011. Mas esta manhã dobrei com carinho um cachecol algo desbotado pelo tempo, gasto pelos abanos, pelos danos de todas as viagens, peles vezes em que o emaranhei nas mãos – de desespero ou euforia. O mesmo que levei aos Qualifiers este ano, aos pré-Qualifiers no ano antes desse, aos pré dos pré dos pré no ano anterior.

Dobrei-o carinhosamente: primeiro o lado vermelho, onde se lê “PORTUGAL”, assim mesmo, engarrafado.

Do outro, em letras miúdas num fundo verde, uma frase, num murmúrio: “Representar com garra o nosso jardim à beira-mar plantado. Renovar o legado”.

Dobrei-o, ao lado da camisola personalizada, dos óculos vintage, da powerbank e do nécessaire. Entre o saco das sapatilhas e a máquina fotográfica, debaixo do quispo e do livro de bolso que trouxe para a viagem – mas que nunca li.

Dobrei-o com carinho, claro.

Gostaria de vos dizer que tem 19 anos de estima. Apetece-me inventar que me o arranjaram algures em Espanha, no ano de 2007, e que passou pelas mãos dos muitos fãs que assistiram à estreia portuguesa na era moderna dos Campeonatos da Europa. E, por isso, seria um digno lembrete de onde já estivemos – e ainda mais daquilo que passámos para lá chegar.

Mas os “heróis de 2007”, como a media os apelidou à data, nunca estiveram em Riga.

E este cachecol nunca esteve em Sevilha.

*Ding, dong*, ouve-se no altifalante. Finjo que não ouço. Estico as pernas em cima da bagagem e, à minha frente, o Diogo [Ventura] tem os fones nos ouvidos. Ele sim, esteve em Sevilha 2007. Nas bancadas.

Pergunto-me que relíquias guardará dessa viagem. Pergunto-me se terá o pai dele um qualquer cachecol que comprou em Sevilha 2007, e se também o guarda com o mesmo carinho com que eu guardo este, tão mais recente, mas não menos gasto pelas histórias que guardou este longo, duro, merecido caminho.

Curioso como, 19 anos depois, com mais ou menos cor, com esta ou com outra fonte de letra, com estas ou com outras palavras, neste ou noutro tecido, com este ou com outro par de mãos a segurá-lo, a mensagem que o meu cachecol, que o cachecol do pai do Diogo comprou, é a mesma.

O verde da nossa bandeira nem sempre é (somente) de esperança. Por vezes representa muito mais o plano fértil das nossas aventuras.

*Ding* *Os passageiros do voo 3781 para Riga podem começar a embarcar*, ouve-se nos altifalantes.

Tiro da mala o cachecol. Os 12 embarcam à minha frente.

“At last on the road to Riga”, penso, embora saiba que a “road” é uma viagem aérea, e que, bem lá no fundo, já estamos na reta final do trajeto.

“Renovar o legado”, leio novamente naquele pedaço de pano tingido. Sevilha, Panevezys, Riga. Que orgulho é ter comigo este cachecol manchado pelo tempo, gasto em combate. 14 anos depois, erguê-lo acima dos ombros e gritar “PORTUGAL”, assim, em tom garrafal.

Nem todas as histórias começam com “era uma vez”. Esta começou com “uma vez era”, e ainda não sabemos como irá terminar. Uma coisa é certa – não há volta a dar.

*Atenção, passageiros*, ouve-se a hospedeira. *Hoje é o primeiro dia para voltar a fazer história*.

Sorrio, recosto-me e fecho os olhos.

Se calhar percebi mal, ou foi o sono que inventou esta parte.

Pouco interessa. Quando acordar os Linces vão estar em Riga, para disputarem, 14 anos depois, o EuroBasket. Este cachecol também.

➤ Chéquia x PORTUGALSetor 111

➤ PORTUGAL x SérviaSetores 114 e 115

➤ Turquia x PORTUGALSetor 111

➤ PORTUGAL x LetóniaSetor 111

➤ Estónia x PORTUGALSetores 114 e 115

Para mais informações, visita o site oficial do EuroBasket.

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