«Campanha inolvidável»
A Selecção Nacional Feminina de Sub-20 conseguiu a subida de Divisão no recente Campeonato da Europa (Divisão B), disputado na Macedónia, tendo regressado a casa com a medalha de prata, depois de perder a final com a Suécia.
Seleções | Treinadores
21 JUL 2011
O treinador da equipa conta, nos detalhes desta notícia, algumas das emoções vividas pela equipa.
“Finalmente, à 3ª foi mesmo de vez! Primeiro em 2007, em Druskininkai, contra a Lituânia; depois em 2010, em Kavadarci. Finalmente conseguimos realizar o sonho que provavelmente só em nós e poucos mais acreditariam. Subimos de divisão”, começa por nos dizer o treinador.Mas o desfecho feliz da participação portuguesa no Europeu não foi obra do acaso: “A preparação começou na equipa sénior ainda, em Abril, com 5 atletas Sub-20 (tendo apenas ficado 3 nas 12 finais), mas teve o seu momento verdadeiramente inicial só em fins de Maio/início de Junho, o que representava uma preparação de 2 jogos privados e 32 treinos. Era curto, mas sabíamos o que tínhamos de fazer para chegar ao ponto ideal, dentro desta preparação possível”, esclarece.A estratégia para “atacar” o Campeonato da Europa não tardou a ser delineada: “Depois de termos escolhido as jogadoras que reputámos como certas, encarámos este Europeu da forma mais calculista possível. Sob o ponto de vista competitivo teríamos forçosamente de vencer os 2 primeiros jogos com equipas teoricamente mais acessíveis, Macedónia e Bulgária. Depois, perceber onde estávamos em relação às favoritas, pois defrontávamos a Suécia e a Hungria. Paralelamente, como tínhamos apenas 2 jogos de preparação, e no inicio de Junho sabíamos que teríamos de fazer um campeonato em crescendo e com um plano estratégico-táctico também previamente estabelecido.”Já na Macedónia, a equipa manteve-se fiel ao plano inicialmente traçado: “Independentemente de como o jogo corria e das dificuldades naturais que íamos enfrentando, nunca saímos desse plano, nunca deixamos de fazer aquilo tínhamos treinado, evitando ir para soluções que não tínhamos previsto ou ensaiado. Percebemos que teríamos de vencer com muito sofrimento e se tivesse de ser por um ponto em cada período, pois assim seria. Isso foi visível pois à medida que fomos enfrentando as equipas mais fortes, quando todos achavam que já não conseguiríamos, nós conseguimos subir uns furos e estar ao nível do nosso adversário.”A dada altura, a jovem Selecção começou a vislumbrar como possível a subida de divisão: “Percebemos que isso era possível quando ganhámos à Hungria e quando perdemos contra a Suécia, porque durante cerca de 10 minutos não fomos nós e saímos do tal plano inicialmente traçado. Depois, Israel e Rep. Checa foram uma verdadeira lição de basquetebol e de controlo emocional. Normalmente, as equipas lusas apresentam um basquetebol já bastante respeitável mas ainda falham no tal controlo emocional, na gestãomental do sucesso ou do insucesso. Desta vez, isso não aconteceu e a subida de divisão foi quase uma ‘fatalidade’, no bom sentido da palavras. E só não fomos mais longe do que a medalha de prata porque a Suécia era de facto bastante mais forte do que a nossa Selecção”, salienta Eugénio Rodrigues.Foram uma sucessão de jogos, mas a equipa reagiu bem: “A gestão do esforço na minha opinião foi quase perfeita e a rotação levada a cabo, sem ser muito extensa por todas as jogadoras foi a suficiente. Tivemos um pequeno contratempo, que se prendeu com uma queda da Michele Brandão numa escadaria que chegou a assustar. Tivemos também de controlar mais do que o habitual a alimentação pois foram identificados muitos problemas com as atletas nesse aspecto (refeições no hotel não eram as melhores) etivemos inclusivamente o cuidado para mentalmente não “sair” do ritmo competitivo do campeonato face a uma folga dupla que gozamos. Tenho a perfeita consciência de que dificilmente haveria algo mais a fazer, no plano do scouting, no treino mental das jogadoras e no plano organizativo.”E Eugénio Rodrigues prossegue: “Assim sendo, “faltava” vencer os jogos e claro, ter a estrela da sorte. Costuma-se dizer de que quanto mais trabalhamos, mais sorte temos, e as atletas foram inquestionavelmente as maiores responsáveis pelo êxito. Trabalharam como ninguém, sacrificaram-se como ninguém e quiseram tanto ou mais do que as adversarias. Estas três premissas que serviram de mote ao nosso trabalho diário desde o 1.º treino, deram numa medalha, e na subida de divisão.”O técnico recusa-se a ficar com os louros deste sucesso, fazendo questão de dividir o êxito com outros intervenientes: “É também justo dizer-se que este resultado é o somatório de muitos factores que passam pelo trabalho dos clubes e seus treinadores e pelos centros de treino, que vieram sem qualquer sombra de duvida elevar o nível competitivo das nossas selecções. Posso dizer que, sem saber quem contribuiu mais com o quê, os centros de treino e os seus responsáveis deverão nesta altura também eles, sentir muito orgulhos neste êxito.”E agora, o que acontecerá a esta equipa? “O futuro é algo sempre incerto, mas acho que esta é uma oportunidade soberana de cimentarmos o nosso salto qualitativo no basquetebol europeu feminino pelo que urge pensar seriamente e com tempo na campanha europeia de 2012 por forma a que possamos mostrar, mais uma vez à Europa, que este resultado não é fruto do acaso.”“Finamente, e em jeito de conclusão, importa rentabilizar este resultado da melhor forma possível, sobretudo através da sua publicitação junto dos meios basquetebolísticos, pois agora, mais do que nunca, as atletas deverão sentir orgulho em representar a Selecção Nacional, todos os agentes deverão contribuir para isso e convergir forças pois representar Portugal, vencer ao serviço de Portugal e poder ter uma medalha ao peito com Portugal como pano de fundo, é e deverá ser sempre o objectivo máximo de qualquer desportista”, frisa.E deixa um conselho: “Só estando na Europa num bom plano competitivo se pode melhorar o nível do nosso basquetebol em geral. Pessoalmente, esta campanha europeia foi absolutamente inolvidável e mentiria se dissesse que sou o mesmo depois de tudo o que foi vivido. Espero um dia voltar a vivê-la e também poder ter a alegria de ver ou ouvir os meus companheiros treinadores a falarem de sensações semelhantes. Será muito bom sinal.”