“Cheguei onde cheguei porque trabalhei muito e tive de aprender tudo”
Mery Andradre, nome reconhecido do basquetebol nacional, foi uma das treinadoras presentes no G-League Elite Camp e no NBA Draft Combine, eventos integrados no Assistant Coach Program (ACP), curso que a ex-internacional portuguesa está a frequentar para no futuro poder treinar na liga norte-americana.

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23 MAI 2019
Dos vários candidatos, foi uma dos doze eleitas e de abril até outubro vai dividir o seu tempo entre o recrutamento para a Universidade de San Diego, onde é treinadora-adjunta, e a formação para treinar na NBA.
Entrevistamos a ex-WNBA que, além das conferências, da análise de vídeo e do trabalho de campo com os atletas, nos falou um pouco daquilo que tem sido a sua experiência no ACP, das prespetivas para o futuro e do seu percurso no basquetebol enquanto treinadora.
Jogou cinco anos na WNBA, treinou em Itália e Portugal e regressou ao basquetebol norte-americano como treinadora-adjunta da Universidade de San Diego, o objetivo de integrar o Assistant Coach Program passa por chegar à NBA?
Como jogadora o objetivo sempre foi chegar ao mais alto nível, como treinadora não sou diferente. Fiz a experiência e decidi o ano passado. Estou há quatro anos em San Diego como treinadora adjunta, já tinha alguma experiência de Itália e Portugal e agora estou interessada em passar para o masculino e treinar na liga. É um percurso que leva tempo, mas estou disposta a percorrê-lo e ver até onde me leva.
Ao contrário da WNBA, o posto de treinador na NBA é maioritariamente ocupado por homens, contudo temos visto um aumento considerável de treinadoras a chegarem à liga norte-americana, como por exemplo Becky Hammon, treinadora-adjunta dos San Antonio Spurs. De que forma vê o papel da mulher na NBA?
O que fez a diferença no caso da Becky Hammon foi a divulgação. O treinador Popovich fez um trabalho excelente porque valorizou o trabalho da Becky, contrariamente aos outros casos já existentes que não tiveram a divulgação que mereciam na comunicação social. A competência fala mais alto que o género e acho que essa abertura potenciou outras equipas seguirem o exemplo, sobretudo porque o programa dos Spurs foi sempre bem sucedido e os contributos da Becky Hammon foram importantes. Querendo ou não, nós mulheres temos uma prespetiva diferente do jogo, uma perspetiva feminina é uma mais valia.
O seu percurso como treinadora começou em Itália depois passou por Portugal, mas também passou pelos Estados Unidos. Como qualifica todo o conhecimento basquetebolístico adquirido nessas experiências distintas?
Acho que é tudo um processo de crescimento, não acredito no estigma que diz que uma boa jogadora vai dar uma boa treinadora. Cheguei onde cheguei porque trabalhei muito e tive de aprender tudo. Sempre fui ótima atleta, mas tive de aprender os vários gestos técnicos do jogo, o meu forte sempre foi o físico. Esse processo de aprendizagem ajudou-me imenso, tive de aprender todos os detalhes do jogo. Na minha carreira como treinadora acontece exatamente o mesmo. Treinei sub-14, treinei profissionalmente e trabalhei em desenvolvimento de atletas em Itália durante o Verão para agora chegar aqui. Todas as experiências que tive até agora foram importantes.
Recentemente esteve presente no G-League Elite Camp, seguindo-se o NBA Draft Combine onde, tal como os jogadores, os treinadores também foram postos à prova. Como descreve essa experiência?
Foi uma experiência surreal. No G-League Elite Camp já treinas jogadores formados e o relacionamento é diferente, mas isto é sempre basquetebol. A relação com os atletas foi sempre ótima. No Combine foi diferente porque eles estavam numa situação de stress, mas o nosso papel passava por acalmá-los, apesar de nós também estarmos a ser avaliados. Além do trabalho de campo tínhamos ainda reuniões depois do dia terminar. Foi intenso, muito cansativo, mas as ideias retiradas desta semana só me vão ajudar em San Diego, com as minhas atletas. No fundo toda a gente vai usufruir da experiência que tive.