Cinco diferenças em relação ao basquetebol a “pé”
Apregoa-se, e bem, que o basquetebol em cadeira de rodas (bcr) partilha uma linguagem com o basquetebol convencional, mas preconiza igualmente uma conceção própria do jogo, específica do ponto de vista técnico e tático, a que não é alheia a confluência de atletas com deficiências motoras diversas.

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20 NOV 2016
1 – A pontuação funcional de cada jogador, que abordámos noutro artigo determina na esmagadora maioria das vezes a posição que assume em campo. O facto do atleta de maior funcionalidade se poder sentar mais alto na cadeira, com pouco apoio de costas, e sem que isso comprometa o seu equilíbrio, faz com que aqueles pontuados com 3.5, 4.0 ou 4.5 tenham reservadas de antemão as funções de poste – não invalidando que se perfilem como jogadores mais “exteriores” ou bases. Pelo contrário, o atleta de pontuação funcional 1 desempenha quase sempre as tarefas do extremo, uma vez que carece de mobilidade quer para atuar nas posições interiores, quer na distribuição de jogo. Ainda assim, assiste-se a uma tendência para que o base também possa ser um atleta de pontuação 1, sobretudo se o mesmo for bom atirador. Isto porque prevalecem as defesas zona 1-2-2 e o defensor do meio é o responsável pelas “ajudas”, libertando o atleta adversário da posição 1 para lançar ou passar com maior comodidade;
2 – O “Man Out” constitui uma pedra basilar do bcr. Na elite, todas as equipas adotam esta estratégia que consiste em reter um adversário com um, ou idealmente mais jogadores, no seu reduto ofensivo de forma a atacar em superioridade numérica. O espaço ocupado pelas cadeiras torna uma missão árdua recuperar a posição perdida, de modo que o “Man Out” é uma tónica constante no jogo de bcr, privilegiando-se como alvos, claro, os elementos mais lentos da equipa adversária;
3 – A hegemonia do jogo interior. Atendendo ao explanado anteriormente, ou seja, ao espaço significativo ocupado pelas cadeiras e à dificuldade consequente de recuperar a posição, assim como devido à maior mobilidade e altura dos jogadores de elevada funcionalidade, uma vez que estes penetram na “área pintada”, torna-se espinhoso desarmá-los, inclusive por outros de igual funcionalidade e altura. Há que lembrar que saltar não é possível, apesar de o “tilting” o ser – ação de colocar a cadeira apoiada numa só roda, ora com o objetivo de limitar o adversário com bola, ora com o intuito de ganhar espaço para o lançamento -, o que massifica uma outra prática no bcr: a utilização do “Mismatch”. Tal obriga a trocas constantes na defesa entre jogadores de elevada e baixa funcionalidade de modo a que se equiparem aos seus homólogos adversários;
4 – A menor preponderância do bloqueio direto. O desafio inerente a controlar a cadeira e a bola em simultâneo diminui significativamente a frequência do bloqueio direto no bcr. Porém, não significa que o mesmo esteja “interdito”, dado que são muitos os jogadores com agilidade e capacidade de drible para se desembaraçarem de um adversário através do bloqueio direto. Essa circunstância dá-se mais amiúde nos momentos de transição rápida para o ataque ou até em ataque organizado se houver um espaço amplo para o desenrolar da jogada no “pós-bloqueio” e o portador da bola for competente na rotação da cadeira;
5 – Predominam as defesas em zona fechadas por essencialmente duas razões: o espaço que as cadeiras ocupam fazem de qualquer bloqueio “letal”, forçando maior resguardo para evitar o jogo interior, que impera no bcr; o lançamento exterior, sobretudo o de 3 pontos, regista-se com menor frequência, facto facilmente explicável pela exigência física que comporta lançar de uma cadeira de rodas, sem saltar, e à custa da força de braços, mais desgastados, uma vez que são não só responsáveis pelas ações técnicas de passe, lançamento e drible, como também pela mobilidade do atleta. Paradoxalmente, numa situação de grande disparidade física e/ou de velocidade entre as duas equipas, apesar da eficácia do bloqueio, assiste-se a defesas homem a homem a todo o campo regularmente ou em “banana”, posicionando-se os defensores ao longo da linha dos 3 pontos.