A classificação funcional no BCR: o sistema que abre a porta a todos

Em 1983, foi adoptada a proposta do médico alemão Horst Strohkendl

Competições
16 SET 2022

Desde sempre o basquetebol em cadeira de rodas foi mediado por um sistema de classificação com o intuito de dotar de maior justiça a convivência de atletas com deficiências motoras de diferente gravidade em campo. De 1960 a 1966 vigorava um modelo de 2 classes, que competiam em separado – A, destinada a jogadores com lesões medulares e paralisias completas; B, que incluía jogadores com lesões incompletas ou paralisados devido à poliomielite; em 1966 passa a imperar um novo sistema, que prevê o fim das divisões em função do caráter completo ou incompleto da lesão. Era composto por 3 classes – 1, 2 e 3 -, sendo tanto mais grave a lesão do atleta quanto menor o número, e o total de pontos dos 5 elementos em campo não podia exceder os 12 pontos, valor corrigido para 11 em 1972, de forma a incentivar a utilização de atletas de classe 1.

Com a já referida aprovação de atletas com outras deficiências motoras em 1982, equaciona-se novo sistema de classificação, adotado em 1983 e proposto pelo médico Horst Strohkendl, contemplando 4 classes e um máximo de 14 pontos em campo. Acrescentam-se no ano seguinte 3 classes intermédias – 1.5, 2.5 e 3.5 -, reduzindo-se o total para 13.5. Finalmente, em 1992, a IWBF – International Wheelchair Basketball Federation – introduz a classe 4.5, o que levou à retoma da fórmula dos 14 pontos, que se mantém na atualidade a nível de seleções, enquanto em termos domésticos se privilegiam os 14,5 pontos.

Falando do que acontece no domínio interno, é comum estabelecer um ganho de 1,5 pontos para as equipas que incluam atletas do sexo feminino – caso de Portugal – dada a escassez de atletas para realizar ligas femininas, mas tal não se verifica em termos de seleções, onde a competição entre homens e mulheres se procede de forma separada.

Quatro fatores determinam a classificação do atleta: controlo do tronco, membros inferiores, membros superiores e mãos. A “fórmula” nuclear no método de classificação reside no conceito de volume de ação, que abrange o plano vertical – capacidade de girar para o lado -; plano frontal – capacidade de fletir o tronco para a frente -, e plano lateral – capacidade de inclinação lateral do tronco.

Grosso modo, o jogador 1.0 demonstra pequeno ou nenhum controlo de tronco no plano frontal, potencial de rotação inexistente, equilíbrio comprometido nos planos frontal e lateral, e necessidade de utilizar os membros superiores para regressar à posição vertical quando em desequilíbrio; o jogador 2.0 exibe um controlo parcial no plano frontal, rotação ativa da parte superior do tronco, mas nula da parte inferior, e fraco controlo no plano lateral; o jogador 3.0 é dotado de bom controlo de tronco no plano frontal, boa capacidade de rotação, controlo razoável no plano lateral; o jogador 4.0 manifesta um controlo de movimentos de tronco normal, apresentando somente dificuldade no plano lateral para o lado debilitado; e o jogador 4.5 tem pleno controlo de tronco, sem quaisquer limitações.

A estabilidade pélvica é outro dos baluartes do sistema de classificação funcional, subdividindo os atletas em dois grupos: estabilidade pélvica ativa e estabilidade pélvica passiva. Na estabilidade pélvica ativa, o atleta dispõe de suficiente controlo muscular no tronco inferior, cintura pélvica e ancas que lhe permite manter a pélvis numa posição normal. Normalmente, esta categoria de atleta senta-se num ângulo reto e necessita de pouco apoio – cintos – para a manutenção da estabilidade pélvica. Na estabilidade pélvica passiva, o atleta denota parco controlo muscular no tronco superior, cintura pélvica e ancas para manter a pélvis numa posição normal, joga com uma inclinação aguda e recorre a elementos externos para assegurar a referida estabilidade.

Nota: fotografia da autoria de Miguel Fonseca – @mfportefolio

Competições
16 SET 2022

Mais Notícias