Custódio Coelho ascende a árbitro internacional de BCR

Juiz setubalense alcançou a aprovação no Europeu B, em Sarajevo

Competições
6 JUL 2022

O árbitro Custódio Coelho viu premiada a sua candidatura a árbitro internacional, no Campeonato da Europa B/C, que decorreu em Sarajevo, de 12 a 22 de junho. Nas palavras do próprio, o jogo entre Sérvia e Irlanda resistirá na memória como um momento emblemático na sua carreira, uma vez que representou o exame prático de avaliação para a aprovação enquanto árbitro internacional de BCR.

O juiz de 28 anos, com experiência enquanto jogador nos escalões de formação do Scalipus Clube de Setúbal, iniciou a carreira na arbitragem em 2012, na sequência de um desafio de um colega para tirar o curso. E começou a “tomar-lhe o gosto”. Integrou o programa dos Potenciais Talentos em duas ocasiões, saldadas pela chegada à terceira fase e à fase final, respetivamente. Esteve por duas vezes nos quadros de acesso e, no final de 2020, fica como convidado para Árbitro Federação, estatuto consumado na época que agora finda, 2021-2022. O BCR passou a constar na ordem do dia “em 2016 ou 2017”, após novo repto de um amigo, o também árbitro dessa mesma vertente do jogo Alexandre Oliveira, um dos episódios relatados nesta entrevista.

1 – Tendo experiência em ambas as variantes da modalidade, quais as principais diferenças que detetas entre o jogo convencional e o BCR?

Habituares-te enquanto árbitro a ver o atleta como atleta, e não como uma pessoa com alguma incapacidade de jogar o jogo convencional. É importante mudar o “chip” e ver que o BCR é uma competição que toda a gente quer ganhar; habituares-te rapidamente ao choque das cadeiras, ao cheiro da borracha ou do ferro, estares preparado para um pneu rebentar do nada, para um jogador cair e eventualmente levantar-se sozinho ou então necessitar de ajuda. Depois, devo dizer que, graças ao BCR, melhorei bastante a minha arbitragem do jogo convencional, porque consegui estar muito mais atento a tudo o que eram bloqueios, percebi o jogo de uma forma diferente, no que respeita à importância de garantir o espaço. Ou seja, não só olhar para onde está a bola, mas também para o que está a acontecer do lado oposto. Fiquei com uma perspetiva diferente, de conseguir olhar para o jogo e perceber exatamente onde é que está o conceito de vantagem e desvantagem, patente no confronto de um jogador de pontuação baixa, de 1.0 ou 2.0 de classificação, contra um jogador de 3.5, 4.0 ou 4.5, e aí discernir o se deve ou não sancionar. Para além disso, de realçar que com o BCR consegui ter oportunidade de apitar a três e evoluir. Ao mais alto nível, acaba-se por apitar com três pessoas e o BCR abriu as portas para isso. Todas as vezes que tinha apitado nessa condição foi em torneios ou Campus para evoluir a minha arbitragem.

2 – Como surge a possibilidade de apitar BCR?

Foi por convite de um amigo, do Alexandre Oliveira. Abordou-me nesse sentido. “Estou a precisar de um colega para apitar comigo, num torneio em Sintra, em Casal de Cambra. Há uma pequena formação de manhã e a seguir vamos apitar. Queres vir?”. Não tinha nada para fazer nesse dia. Tivemos a formação dada pelo Gustavo Costa e depois uns jogos à tarde, com malta como árbitro sombra, a dar umas indicações. Isto em 2016 ou 2017. Continuei a ser nomeado ainda pela ANDDEMOT – Associação Nacional de Desporto para Deficientes Motores -, pelo Augusto Pinto, de dois em dois meses, provavelmente. Poucos jogos. Só marcava aquelas situações comuns ao Basquetebol a pé, sem perceber ainda muito bem o jogo. Depois é que tive a oportunidade de ter um Clinic, em Aveiro, em 2018, no início de época, que culminou com a Supertaça. Tive a primeira experiência sentado numa cadeira, percebi as dificuldades e o que sente um jogador, o que é ótimo. Foi logo um bom salto que consegui dar. Também apareceram mais jovens e houve aquela competitividade saudável. Tive bons professores, o Gustavo Costa, o João Silva, o Fernando Resende, o Alexandre Oliveira. Já esta época, tivemos outro Clinic, em Gaia, com a Tonia Gomez, que também foi muito bom, num outro nível, novamente com a oportunidade de nos sentarmos em cadeiras. Participámos ainda na sessão de treinadores dada pelo Ricardo Vieira. A partir daí, sabendo que já podia haver uma vaga para internacional, defini como objetivo “apostar as fichas”; estudar ainda mais, ver mais jogos, fui acompanhando o campeonato espanhol. Recentemente, vi praticamente todos os jogos da Champions League e da Copa do Rei.

3 – Centrando em Sarajevo, no Campeonato da Europa B/C, como realizaste a tua preparação e quais as tuas expectativas?

A preparação consistiu na visualização de muitos vídeos de jogos de uma competição mais alta; ter visto os meus jogos em Portugal e tentar perceber, em comparação com esses, quais seriam os critérios, o que manter ou limar para estar em condições de apitar o Europeu; procurar uma melhor noção de regras, apesar de em 90% dos jogos não acontecer nada fora do normal, e isto fez-me ter o livro na mesa de cabeceira. Incluí também uma leitura do livro dos princípios e contactos, e a partilha de alguns clips com colegas nacionais para ter uma melhor noção do que estaria correto e do que poderia ter sido feito melhor. Quando cheguei, senti-me preparado. Fiz as provas físicas e teóricas, de inglês e o exame prático, o jogo, que foi o Sérvia x Irlanda. Nunca mais me vou esquecer desse jogo, vai ficar marcado. Dar nota que não estavam à espera que aparecesse uma pessoa tão bem preparada, devido ao nível da nossa competição, e ficaram impressionados quando referi a realização dos Clinics que falei anteriormente. Isso é um ponto muito positivo para Portugal, um reconhecimento do esforço na formação de novos árbitros de BCR.

4 – Sais consagrado como árbitro internacional. O que constataste entre o jogo em Portugal e o jogo de BCR internacional? E o que esperas importar para Portugal na forma de apitar?

Tive oportunidade de estar em jogos de um nível superior, em termos técnicos e táticos, e foi possível ter um critério mais largo, em que os jogadores já estão preparados para jogar mais ao limite e aguentar o contacto, levantarem-se rapidamente ou escaparem de um man out. Acho que seria importante trazer um pouco desse critério para o nosso campeonato, sendo que deveria ser feita uma reunião prévia, antes de começarem as competições, explicar o que seria aplicado, sabendo que é impossível passarmos do oito para o oitenta muito rapidamente. Mas aos poucos podíamos encontrar um equilíbrio, porque, muito provavelmente, os jogadores mais jovens que foram à seleção, se calhar não estavam habituados a esse tipo de critério. Só iria beneficiar o jogo e tornar os nossos jogadores mais fortes e melhor preparados para quando fossem chamados para esse tipo de competição.

Foi bom ter tido a oportunidade de apitar um jogo da Turquia e visto a velocidade incrível a que aqueles jogadores jogam. Ainda estamos um pouco longe desse nível, mas o trabalho está a ser feito com o aparecimento de novos jovens e a arbitragem oferece um contributo fundamental. Se melhorarmos o nível da nossa arbitragem, poderemos ajudar os jogadores a elevarem o seu nível e a que Portugal tenha mais atletas a jogar fora, mais árbitros internacionais e uma seleção a subir nos rankings.

 

Nota: fotografia da autoria de Miguel Fonseca – @mfportefolio

 

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