Diário do Euro: “Há sempre alguém que resiste”

Portugal - Estónia decide a passagem aos oitavos de final do EuroBasket 2025

Seleção Nacional Masculina | Seleções
2 SET 2025

São 23h59 em Riga. Já não há sol, nem luar, embora aqui, na capital da Letónia, nunca se coloque verdadeiramente a noite. Foi este o melhor dia, no que ao clima diz respeito, que apanhámos nos últimos 10 anos.

Mas agora são 23h59 e Os Linces já recolheram aos quartos. Eu não consigo dormir – pensando bem, eles provavelmente também não.

Mas deviam. Amanhã, pelas 14h45 de Riga, decide-se o futuro desta equipa no EuroBasket 2025. Amanhã, pelas 12h45 de Portugal, joga-se o jogo de todas as decisões. Disputa-se a derradeira batalha. E, seja qual for o resultado, eles já venceram, embora não o saibam.

Ontem, na conferência de imprensa pos-jogo, o Rafa [Lisboa] disse uma frase que me deixou a pensar: “Se no início da qualificação nos dissessem que estaríamos a uma vitória de avançar para os oitavos de final, todos nós iríamos ficar surpreendidos e contentes”.

Há cerca de dois anos, quando começou esta dura estrada (que, na verdade, tem 14 anos de caminho), talvez muito poucos acreditassem que, hoje, estaríamos a um passo de voltar a fazer história. Mas eles, todos os que fizeram parte desta historia, acreditaram. Sempre. Nos dias de sol e nos dias de chuva. Nas noites com e sem Lua.

E, por isso, aqui estão.

Neste palco dos sonhos.

Com a cortina aberta.

Sem guião, sem encenações, sem figurantes. Sem didascálias, sem deixas.

Afinal, é sobre a realidade que recai a luz dos holofotes em dia de peça. A realidade portuguesa, tão distinta da europeia no que à nossa modalidade do coração diz respeito. Faz-se fila lá fora nesta noite fria.

Somos a 56.ª. Eles são a 2.ª, a 9.ª, a 19.ª e a 27.ª e a 43.ª. Eles são a Sérvia, a Letónia, a Chéquia, a Turquia, a Estónia. Eles são países de Basquete, onde nas ruas se fala de Basquete, onde nos pavilhões há tabelas no lugar das balizas, e onde os miúdos correm atrás dos autocarros para pedir autógrafos, onde se faz fila à porta do hotel para tirar uma foto, onde os pacotes de batatas fritas exibem as cores das camisolas. Eles são portentos da modalidade, históricos da bola laranja, países de gigantes e de antigos MVPs. Eles são os Gigantes da Europa.

Mas nós somos os #GigantesDePortugal.

A hashtag que há um ano escolhemos para as Seleções Nacionais tem hoje outro peso quando a escrevo todos os dias no Instagram e no Facebook e em todas essas redes sociais. Relembra-me sempre a dimensão da nossa luta, o esforço hercúleo que estes 12 Linces deixam todos os dias dentro de campo. Em cima do palco.

Eu estive lá – e vi com os meus próprios olhos a intensidade do Cândido [Sá], a dedicação do Francisco [Amarante], o sacrifício do Diogo [Gameiro].

E, se há uma coisa que aprendi ao acompanhar este grupo, é a seguinte: há uma vontade que todos sentem. Um sonho.

Há uma Equipa – e o E maiúsculo não é uma gralha.

Se nada mais houver, esta é comum a todos: aqui, desistir não é uma hipótese. Vencer pode não ser uma certeza, mas desistir nunca fez parte dos planos. Nestas noites tão frias, nestes dias tão cinzentos que passaram, deixar a peça a meio nunca foi opção.

No sangue corre-lhes algo mais que plasma e glóbulos. A chamada fibra. Determinação. A luta que transformou esta nação. Eles fazem parte dessa história – e essa história moldou-os, sempre que a cortina se abre, mas principalmente quando está fechada e, da plateia, não se vê nada.

Quando ninguém acreditava neles, eles venceram. Sobressaíram. Receberam a Eslovénia e, contra tudo e contra todos, elevaram-se mais alto. “Mais alto que os homens”, como dizia a canção. Foram à Bulgária e, num pavilhão lotado e ofuscante, saíram de lá com a mais necessaria das certezas: contra tudo e contra todos, quando juntos cantam, é o nosso hino que se eleva mais alto. Quando juntos se abraçam, se erguem, é a nossa voz que mudará o mundo. Pouco a pouco, passo a passo, é do peito que surge a maior das vontades.

Essa – ninguém nos tira.

Eles seguiram as pegadas dos antigos, subiram-lhes aos ombros para melhor ver o contraponto no horizonte, mas desceram de novo, com a vontade de deixar calcada nova história, sem ligar ao que já estava escrito.

Hoje, enquanto planeava um conteúdo para as redes sociais, comecei a procurar fotos de 2007. Mas contive-me. Os heróis de outrora já lá vão. Recordados são e serão, no seu devido tempo. Hoje, é sobre os 12 Linces a um passo de estar (mais ainda) na elite da história.

Esta alma é tão gigante quanto o sonho português.

Sempre mais alto.

Sempre mais longe.

Juntos, até ao fim da estrada, até que se feche a cortina.

Mesmo que atrás dela ainda não se aviste a luz, amanhã será o mesmo sol que brilhará em Lisboa e em Riga.

São 23h59 em Riga. Amanhã, quando acordarem, esse mesmo sol já terá nascido.

Para os que continuarão na cama, a sonhar no sono.

Para os que se irão levantar, vestir a camisola e viver esse mesmo sonho, tão terno.

Porque, na trova do vento que passa, na peça que está por escrever, na noite mais fria e no dia mais quente, “há sempre alguém que resiste. Há sempre alguém que diz não”.

“Às vezes os underdogs têm dias felizes”.

Bom dia, Portugal.

➤ Estónia x PORTUGAL | 3 de setembro, 12h45Setores 114 e 115

Transmissão exclusiva da RTP2.

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