Diário do Euro: o mar português de Riga
Portugal defronta amanhã a Alemanha, nos oitavos de final do EuroBasket, pelas 13h15

Seleção Nacional Masculina | Seleções
6 SET 2025
A crónica de hoje é simples. Tão simples quanto escalar uma montanha – a montanha mais alta – ou atravessar a nado um oceano – o oceano mais vasto.
Pela frente, Os Linces vão ter amanhã um jogo que, como li hoje nas redes sociais, tem 0,19% de chance de cair para o nosso lado. As casas de apostas falam em 1% – a percentagem mínima que podem apresentar. A Alemanha, campeã mundial em título, é a equipa que mais pontos marcou neste EuroBasket. Venceu a Grã-Bretanha por 63 pontos, a maior margem do século XXI. Terminou em primeiro do Grupo B, de forma indiscutível, e a Finlândia, o segundo classificado, não teve qualquer hipótese no encontro entre ambas. Se a Sérvia era a 2.ª melhor do mundo, os germânicos são 3.º, mas a caminho do topo. Dennis Schroder, Franz Wagner e Daniel Theis são os líderes de um coletivo que veio para levantar o título. Mas, agora, chega de falar do adversário.
Sim, a chance é mínima. Mas existe.
E, enquanto existir, nós, portugueses, nunca nos daremos por vencidos.
“Tudo vale a pena quando a alma não é pequena“, dizia um famoso poeta, num poema intitulado “Mar Português”. Pois bem, o mar, aqui, em Riga, é demasiado calmo para nós. É doce o Báltico, a areia é dura e não tem ondas.
Não nos satisfaz.
Nós, portugueses, gostamos da agitação da costa atlântica. Da provocação da maré, da frescura da maresia.
Não sei o que nos diz esse facto sobre o “ser português”.
Mas sei que, perante a montanha mais alta, o oceano mais vasto, nos agigantámos. Foi assim outrora – e assim será. Poderá não o ser amanhã, mas uma coisa é certa: estamos a jogar os oitavos de final do EuroBasket perante a terceira melhor seleção do mundo, a segunda da Europa. Se isso não é de gigante, não sei o que será.
Há um outro poema, da Maraíza Labanca, que assim termina: “Essa falsa ideia que o mar nos dá/ de que é a gente que entra nele”.
Sempre gostei muito desta analogia. Da interpretação.
O mar é algo tão imenso que nem dá pela nossa conta. Num oceano de infinitas gotas, a nossa presença é um grão de areia entre todas as praias do mundo.
Hoje, depois de 10 dias em Riga, não mais acredito nessa não-verdade. Por muito pequenos que possamos ser – como dizem os números, aliás, como diz o nosso 56.º lugar no ranking mundial – a Seleção deste “Sweet Sixteen” na mais baixa das posições já provou que, neste oceano imenso, é capaz de movimentar ondas.
De mergulhar de cabeça sem pensar no quão fundo está o fundo do mar.
Depois de todas as braçadas, de todo o esforço, de todas as vezes que veio à tona respirar, de todos os tubarões que enfrentou pelo caminho, Portugal está em pleno alto-mar.
Ao longe avista-se a costa, uma ténue, finíssima linha no horizonte.
Mas, se já lá estamos, no mar alto, por que não lutar contra a maré só mais um pouco? Por que não respirar fundo – e voltar a emergir?
Afinal, foi nesse “mar português” que estes 12 Linces, como nos diz o poema, “espelharam o céu”.
Na montanha mais alta. No oceano mais vasto.
De braçada em braçada, de braços dados, continuar a nadar.
Contra tudo. Por todos.
A alma nunca é pequena.
➤ Alemanha x PORTUGAL | 6 de setembro, 13h15
Transmissão exclusiva da RTP2.
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