“Esta nomeação é um grande voto de confiança da FIBA”
Entrevista a Sónia Teixeira após chamada para o EuroBasket feminino
Juízes
20 ABR 2021
Sónia Teixeira, árbitra internacional portuguesa, voltou a viver um grande momento para a sua carreira, com a chamada para o EuroBasket feminino, que terá lugar em Estrasburgo (França) e Valência (Espanha), entre 7 e 17 de junho deste ano.
Em entrevista à FPB, a juíza do CA Lisboa não esconde a satisfação por esta nomeação, elogia a arbitragem nacional e revisita o seu percurso.
O que significa para ti esta nomeação para o Europeu feminino?
É extremamente gratificante quando o nosso trabalho é recompensado com oportunidades como esta. Naturalmente, recebi a notícia com alegria, pois sem dúvida de que reforça a minha confiança.
Vais como “árbitra neutra”, e por isso podes ajuizar qualquer encontro. É o maior voto de confiança que já recebeste da FIBA?
Na realidade, teria um sabor diferente se pudesse marcar presença também com a Seleção Nacional. Espero que num futuro próximo, o trabalho realizado pela Federação com as Seleções Nacionais, aliado a uma maior experiência competitiva a nível europeu, quer ao nível de clubes, quer ao nível das Seleções, possa dar esses frutos. O trabalho que tem sido feito, também no setor da arbitragem, tem-se revelado recompensador, pois os nossos árbitros vêm marcando presença em diversas competições de grande prestígio, como é exemplo a recente nomeação do Paulo Marques para a Final 4 da FIBA Europe Cup, no próximo fim-de-semana, em Israel. Quanto a esta nomeação em particular, é, sem dúvida, um grande voto de confiança da FIBA. Em 2015 tive uma oportunidade idêntica, mas agora, com mais seis anos de experiência, sinto que tenho outro tipo de responsabilidade, em particular o de apresentar uma maior capacidade de liderança.
Olhando para o formato da competição e seleções presentes, o que esperas deste Europeu? Como será esta experiência numa altura de pandemia?
Qualquer um dos quatro grupos tem seleções de grande qualidade, de nível técnico e fisicalidade superiores, por isso espero jogos de grande exigência e competitividade, sendo que nesta fase não há margem para erros. Na presente época desportiva, as competições femininas da FIBA foram disputadas em formato de “bolha” devido à pandemia, garantindo todos os cuidados preventivos de saúde necessários antes e durante o período da competição. Estou em crer que não se irão verificar mudanças significativas até junho, mas desejo sinceramente que haja uma evolução positiva da pandemia que permita a presença de público nos jogos, possibilitando aos adeptos do basquetebol vivenciar in loco todas as emoções de uma competição com esta dimensão.
Este será o momento mais marcante da tua carreira? Olhando para trás, podes recordar em que outros grandes momentos já estiveste presente?
Nesta fase diria que sim, é bastante marcante. Adquire um significado muito especial, depois de em 2017 ter passado por um momento de uma dureza indescritível, quando em pleno campo de seleção para o EuroBasket feminino me lesionei com gravidade. Na altura, perdi o “bilhete” para o Europeu, perdi o resto da época e quase perdia a licença FIBA, devido à necessidade de realizar a prova física num período de tempo demasiado curto face à gravidade da lesão sofrida. Ao longo destes 24 anos de carreira, participei nos grandes momentos das principais competições em que atuo: a nível interno, destaco a presença nas decisões das principais provas femininas e masculinas (Campeonato, Taça de Portugal, Taça Hugo dos Santos, Taça Federação e Supertaça); a nível internacional, nas fases finais das principais competições femininas (EuroBasket feminino 2015, Final 8 e Final 4 da Euroliga feminina, final da EuroCup feminina e 3 Supertaças femininas). E não posso deixar de referir um momento que me emocionou bastante, que não teve diretamente a ver com um jogo que tenha arbitrado, mas que vivi por dentro por ter participado na competição como árbitra, e que foi o jogo da Final do Campeonato da Europa de Sub16 femininos em 2015, disputado no Pavilhão de Matosinhos, em que Portugal conquistou o segundo lugar. Sinto-me privilegiada por já ter tido a oportunidade de poder viver por dentro vários pontos altos nacionais e internacionais. Mas estas oportunidades são também fruto do caminho que tracei e que tenho trilhado, de muito trabalho, da constante formação e aprendizagem, do respeito pela competição e todos os intervenientes, do apoio de muitos, da enorme exigência que coloco a mim mesma para ser cada vez melhor, de muita resiliência e, não menos importante, da forma apaixonada como me dedico a tudo o que faço.