Eugénio Rodrigues: «Portugal merece a Divisão A»
A Seleção Nacional feminina de Sub-20 não conseguiu subir à Divisão A do Campeonato da Europa, facto que não retira "orgulho" ao selecionador, que não poupa nos elogios às suas atletas.
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14 SET 2013
Eugénio Rodrigues considera que as jovens seleções portuguesas têm nesta altura condições para competir na principal divisão europeia e solidificar uma posição na segunda metade deste escalão. Leia a entrevista, nos detalhes desta notícia.
O inicio da prova, com quatro vitórias consecutivas, foi extremamente promissor?Sim, entrar com 4 vitórias seguidas dá sempre um alento importante, sobretudo em campeonatos tão desgastantes e tão intensos como os Europeus. Foram vitórias muito moralizantes, tendo em conta que desconhecíamos por completo Israel, o nosso primeiro jogo, e a Roménia com quem jogávamos na segunda jornada mas que havia folgado na primeira. Depois, apesar de um jogo menos conseguido batemos a sempre complicada Macedónia e a Bulgária foi talvez o nosso melhor jogo pois era claramente uma equipa superior à nossa. Tudo somado, ainda que fatigados por termos de jogar em superação para suprir as nossas debilidades, este nosso inicio esteve perfeitamente ao nível de outros Europeus que realizámos e com desfechos mais bem sucedidos que este. Porém, tínhamos a consciência de que, Grã Bretanha à parte (com quem jogávamos na última jornada), os 4 primeiros jogos eram efetivamente os menos difíceis pelo que seria de esperar que a tendência pudesse depois ser a inversa. Portanto, foi um misto de mérito no nosso trabalho e o alinhamento fortuito do calendário.A derrota frente à Letónia, por dois pontos de diferença (44-46), acabou por marcar a participação de Portugal na prova? Sim, completamente. Como é evidente não podemos retratar todo o trabalho realizado nesta campanha apenas por um resultado num jogo, mas para o futuro e para as estatísticas, essa derrota por dois pontos marca o apuro final de contas. Antes de jogarmos com a Letónia tínhamos perdido com a República Checa por 7 pontos, sofrendo apenas 58. Tendo em conta que a nossa adversária estava a cilindrar os adversários, e que nos tinha batido na preparação por 3 vezes sempre folgadamente, podíamos esperar o melhor. A Letónia, como prevíramos, foi uma adversária muito difícil de ultrapassar, com argumentos muito superiores aos nossos. No entanto, durante o jogo, as atletas foram impressionantes e extremamente concentradas no plano que trazíamos e apenas um pequeno erro, cometido a sete décimas do fim do jogo, permitiu à Letónia o cesto da vitória e a subida de divisão. Se temos consciência que todos estivemos acima do expectável, não deixamos de sentir, ainda hoje, o sabor amargo da frustração. É essa frustração que nos levará a voltar a tentar a subida para o ano, e ainda com mais determinação. Ainda assim, e na sua opinião, a equipa esteve ao seu melhor nível?Sim. Provavelmente a maioria das pessoas desconhece as limitações biométricas que a geração de 93-94 padece. Por exemplo, não tínhamos qualquer poste de raiz no plantel, pelo que tivemos de recorrer a atletas nascidas em 95-96, que não estavam convocadas para a seleção sub 18 (excepto a Laura Ferreira mas que também não era jogadora interior), para tentar colmatar este problema. O trabalho destas jovens atletas foi absolutamente abnegado, mas no plano etário estavam de facto muito longe das, nalguns casos, 3 anos mais velhas. Por este facto, obter um 4.o lugar, apenas atrás da Rep. Checa, Bélgica e Letónia, todas seleções que competem regularmente na divisão A europeia, não me parece que seja um mau resultado. Diria que cumprimos com o que nos exigimos a nós próprios, tendo faltado apenas a cereja no topo do bolo. Pessoalmente, não tenho rigorosamente nada a apontar às atletas, nem mesmo depois de perder no último jogo ante a Grã Bretanha, numa fase de quase total exaustão e esvaziamento de objectivos. Tenho aliás um enorme orgulho em ter sido colega de equipa de todas elas.Continua a pensar que a Divisão A é a competição onde Portugal merece estar no escalão de Sub 20 Femininos? Sim, eu acho que, e a exemplo do que felizmente acontece com as outras duas seleções jovens, Portugal pode começar a almejar solidificar a sua posição na segunda metade da Divisão A europeia e quando pontualmente descer, estar ao nível das melhores seleções da Divisão B. Acho que este é, num futuro próximo, o nosso patamar competitivo. É discutível mas concluo que o escalão Sub 20, porque já contém em si atletas seniores (em muitos casos a evoluírem em competições europeias de clubes), é eventualmente ainda mais competitivo e complicado, e onde as assimetrias com as nossas atletas podem ser maiores. No entanto, o constatar de dificuldades não pode ser resignador mas antes uma mola para se trabalhar ainda mais. Por um lado, capitalizar o bom trabalho que se fez em centros de treino e que se vai fazendo nos Clubes portugueses e por outro, permitir a algumas atletas capitalizar e exponenciar a experiência de competir no top, para se tornarem ainda melhores e referências no basquetebol português. E para estar no top temos de, pelo menos, ter isso sempre presente como desígnio de qualquer campanha.