Eugénio Rodrigues: «Tempo trará sucesso»

Na sequência do trabalho desenvolvido nas seleções nacionais jovens, e do convite da federação para frequentar o FECC (curso da FIBA Europa), o treinador recebeu um convite dos dinamarqueses a equipa feminina do Værløse BBK, que aceitou, acabando por tomar a decisão de emigrar.

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21 SET 2013

Nesta entrevista Eugénio Rodrigues conta como tudo se passou e como está a adaptar-se ao país.

Como surgiu a oportunidade de treinar na Dinamarca?Qualquer profissional que ambicione chegar longe, chegar mais alto, terá de ter no seu horizonte a ambição permanente de treinar nos melhores clubes nacionais ou emigrar. No seguimento dessa lógica, aceitei com muita honra e sentido de responsabilidade o convite da FPB para frequentar o FECC. Se por um lado o FECC me abriu os horizontes do ponto de vista técnico, por outro, “escancarou a porta do network basquetebolístico” e de repente, vi-me fora deste “pequeno retângulo” no oeste da Europa que é Portugal. Entre conversas, contactos, amizades e C.V’s, 2013 foi um ano em que surgiram alguns convites muito interessantes, e a Dinamarca acabou por ser um deles. Para ser absolutamente sincero, a “Europa” não faz ideia do que existe no nosso país e as coisas só começam a mudar quando contactam diretamente com as pessoas. Os bons resultados ao nível das Seleções e até o bom naipe de árbitros internacionais que já temos têm ajudado a dar-nos a conhecer mas convençamo-nos do óbvio: ninguém vem a Portugal ver se o treinador A ou B lhes interessa. Estar no FECC foi estar numa montra, foi fazer uma espécie de “try out” e a partir daí, as coisas tornam-se menos difíceis pois “saltei do anonimato”.Quais os motivos que o levaram a aceitar o convite? Foram várias as razões. Primeiro, a solidez do projeto que, se no imediato, apresenta algumas debilidades, a médio prazo acredito que venha a ser algo realmente forte. O Værløse BBK é um dos melhores clubes de formação da Dinamarca, por isso, tenho desde logo um background de treinadores e atletas com qualidade que me permitem estar confiante num futuro próximo. Depois, o Værløse BBK foi um Clube que me quis muito e foi realmente muito rápido e direto nas negociações. Pediram-me para cá vir em Maio e em 3 dias, resolveram tudo. O Clube, à imagem do país, tem em si gente muito séria que honra os compromissos, que não fica a “dever nada a ninguém”. Paralelamente o projeto proposto é de médio prazo, com pessoas dispostas a mudar, e a esperar pelos resultados da mudança. Finalmente, a similitude em muitos aspetos com o basquetebol português, será algo que, em teoria, me facilitará a adaptação, ao contrário do que aconteceria com alguns países do leste por exemplo.Tem sido fácil a adaptação?Tenho dias…! A língua é claramente a maior barreira. Se toda a gente fala Inglês, naturalmente que entre Dinamarqueses isso não acontece. E estar fora de uma conversa não é agradável. Não obstante, já vou sabendo dizer umas quantas palavras e as pessoas com quem convivo no dia-a-dia são fantásticas. Descobri na Dinamarca, o país “latino da escandinávia”. Sinto no Værløse BBK e nos restantes meios, um interesse grande pelo meu trabalho, uma atenção redobrada. O trabalho de exposição mediática da equipa é também muito forte e os “press releases” para as redes sociais e para os media são constantes. Depois, é começar a vida quase do zero, com todos os senãos que isso importa. Creio porém que o saldo é francamente positivo.Acha que o seu trabalho nas Seleções Nacionais lhe abriu as portas para esta mudança?Sim, a par do FECC, o trabalho nas seleções de sub 18, sub 20 e sénior ao longo de quase 10 anos, foi um trampolim para sair do tal anonimato de que te falava. E como os resultados têm sido globalmente muito positivos, a admiração e o apreço é, nalguns casos, até mais visível no estrangeiro do que em Portugal. Acho por isso que os dois fatores enunciados são indissociáveis. Tenho algumas dúvidas de que, um sem o outro, funcionariam. Por exemplo, sejamos honestos com os Clubes e os treinadores nacionais. O mérito de um êxito de uma seleção, é resultado sobretudo deles. Um selecionador nacional é apenas a ponta do iceberg.A que objetivos se propõe a equipa para esta temporada?Como disse, este é um projeto de médio prazo. Sofremos uma “sangria” no plantel, perdendo por razões várias, 6 das jogadoras que levaram esta equipa às meias finais do campeonato no ano passado. É portanto uma equipa com um plantel muito curto, por ora apenas 10 jogadoras, e com recurso a muitas sub 18. As dificuldades no trabalho do dia-a-dia são por demais evidentes. Portanto, no plano competitivo, acho justo pedir-se apenas o acesso ao playoff (8 primeiras), mas é no plano formativo que mais nos concentramos. Queremos construir uma equipa com bases sólidas, com bases do próprio Værløse BBK e ir intervencionando na formação e nas várias equipas que a compõem.Quais as primeiras impressões da equipa, da competição, e do basquetebol feminino dinamarquês?Para além do que já disse atrás, esta é efetivamente uma equipa muito jovem. Exceção feita a uma das estrangeiras, a equipa tem 10 jogadoras cujas idades oscilam entre os 17 e os 24 anos. O campeonato tem 10 equipas, com muitas assimetrias entre elas. Entre planteis igualmente jovens, outros são claramente veteranos, entre planteis com muitas estrangeiras (o limite é apenas para cidadãs não comunitárias), outros são exclusivamente dinamarqueses. Sealand (ilha onde se encontra Copenhaga) tem 7 das 10 equipas que compõem o campeonato por exemplo. Sobre o basquetebol dinamarquês, grosso modo, padece dos mesmos problemas do basquetebol português, a saber: abandono precoce da modalidade, inexistência de perspetiva de carreira, numero reduzido de praticantes e pouco investimento no basquetebol feminino. Há algumas pessoas a trabalhar muito forte no sentido de alterar este estado de coisas, algumas até do Værløse BBK. Esperemos que tenham sucesso.Quais têm sido os feedbacks, atletas e clube, dos seus métodos de trabalho e liderança da equipa?Sem que as minhas palavras contenham em si alguma espécie de comparação ou critica velada ao Basquetebol Português, de todo, os Dinamarqueses são absolutamente frontais nas suas opiniões. Até agora, as observações a meu respeito ou do meu trabalho, têm sido muito positivas. Sou um pouco diferente em muitos aspetos relativamente aos meus métodos, filosofias e liderança. Não tenho sentido nenhumas dificuldades que não se prendam exclusivamente com a mudança ou novidade. Tudo está naturalmente dentro do tal processo de evolução e acredito firmemente que o tempo trará consigo o sucesso que desejo e a tal identificação plena com as minhas ideias.A ligação com a Federação Portuguesa de Basquetebol mantém-se?Sim, foi uma das condições acauteladas a jusante e a montante deste projeto. Por um lado o Værløse BBK permite-me continuar com o meu trabalho ao serviço da FPB e por outro, foi a própria FPB que me manifestou expressamente o desejo de continuar a contar com os meus préstimos. O Værløse BBK está bem ciente dessa realidade pois tem 6 dos seus treinadores envolvidos em equipas nacionais dinamarquesas. É para mim uma honra estar envolvido nestes dois projetos e certamente continuarei a dar o meu melhor em prol do Basquetebol Português, quer na ENB quer na FPB.

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21 SET 2013

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