Frutos da Formação

Com lacunas, mas também com sacrifício, entrega, espírito de missão… e alguma qualidade.

Associações
15 ABR 2005

Assim se
faz a formação no basquetebol terceirense.

Ainda é muito difícil chegar ao topo, mesmo assim são cada vez mais os exemplos de jovens formados nos clubes terceirenses que chegam ás competições nacionais. Há poucos dias, no Lusitânia B AngraBasket, eram mais de uma dezena a competir num patamar exigente como é o Campeonato Nacional de Basquetebol 1… No mesmo dia, a Carla, a Sandra, a Bárbara, a Joana, a Laura, a Raquel e a Tânia, ajudaram o Boa Viagem no caminho para a desejada subida à Liga Feminina. O trajecto está hoje mais facilitado, mesmo assim as dificuldades ainda existem, conforme explicam os próprios jogadores. “Ainda não jogamos muito tempo porque somos mais novos e porque a nossa formação tem algumas lacunas. Há falta de espaços, há falta de horas de treino… Vê-se que há algum esforço, mas ainda não é suficiente”, refere João Ávila, do Lusitânia B, que já esta semana teve o privilégio de treinar com os jogadores da equipaprofissional. Para a “promessa” verde e branca, “os objectivos no basquetebol dependemmuito do resto… Eu quero jogar na equipa B e penso na equipa da Liga, mas não me posso esquecer dos estudos, porque estão em primeiro lugar. Se der para conciliar as duascoisas, aproveito, senão…”. Pela mesma linha seguem David Tavares (AngraBasket) e Bárbara Silva (Boa Viagem). Para o primeiro, o trabalhofeito pelo clube é bom, “mas para chegar a uma equipa sénior é preciso trabalhar e teralgumas capacidades… Para não falar da Liga Profissional; aí já acho mais difícil para umjogador cá da terra… Não digo que seja um sonho impossível, mas ainda falta fazer muito trabalho”. Para o atleta, de apenas 17 anos, “a maior falha em termos de formação é o número de atletas. Há pouca gente e muitas vezes é difícil treinar com sete ou oito pessoas. Para além dissohá falta de espaços (pavilhões), falta de equipas e falta de competição”. Dos três, Bárbara Silva étalvez a que mais minutos tem este ano na equipa sénior, mesmo assim continua com os pés bem assentes no chão. “Existem muitas jogadoras daformação na equipa principal, mas acho que é mais uma necessidade do que propriamente uma questão de qualidade”, refere a jogadora, para quem“uma das coisas que falha é o nível dos treinadores… Acho que deviamos ter melhorestreinadores na formação… Só assim conseguimos evoluir”.RESPONSÁVEIS DE ACORDOOs jogadores mostram satisfação, mas querem mais…Os responsáveis pelas equipas concordam. Apesar de serem cada vez mais “os frutos da formação”, Nuno Barroso(Boa Viagem) concorda com a sua jogadora. “Eu penso que a formação do Boa Viagemainda não é encarada com o objectivo claro de formar jogadoras tendo em vista a sua inclusão na equipa sénior, mas sim numa perspectiva maispedagógica. Eu acho que não faz sentido, num clube que participa nas provas em que nós participamos, não englobar estas duas vertentes. Só cá estou há um ano, mas pareceme que o Boa Viagem terá que avaliar e reflectir sobre o tipode formação que faz, porque este é um clube que precisa muito da formação tendo em vista a competição”. Uma opinião partilhada porMarcos Couto, que refere que, “o projecto de formação do AngraBasket nunca foi posto em prática a 100%… Existem conteúdos definidos, existem formas de abordagem, uma linha orientadora, mas falta ainda a minha supervisão,como coordenador deste trabalho. Por isso, os jogadores que aparecem hoje nos seniores, ainda são fruto de uma formação mais ou menos “desgarrada”. Para o técnico do Angra as infra-estruturas têm crescido, mas é precisomelhorar o nível dos técnicos que trabalham na formação e mudar mentalidades… “Eu percebo que a ideia do nosso jogador seja: “Nunca vou conseguir viver disso”. Mas não consigo entender que obasket esteja atrás de outras coisas… Primeiro os estudos e a família, muito bem. Mas a seguir tem de estar o basket e não as festas de anos, as touradas ou os jogos da televisão”. Mesmo assim vai referindo que, “se os nossos jogadores só nos permitem chegar à CNB1 é aí que devemos estar…Se tivermos jogadores com qualidade para estar naProliga, vamos lutar para aí chegar… Não interessa ao AngraBasket chegar à Proliga e ir buscar dez jogadores de fora dos Açores. A perspectiva do dirigente também não podia faltar. Para Pedro Fagundes, do Lusitânia, “há qualidade e quantidade, mas ainda falta algo… Existem dificuldades, que passam pela falta de espaços, para treinar mais horas; pela falta de competição a nível de ilha e pelo facto de muitos jogadores abandonarem o basquetebol quando chega a hora de ir estudar para fora. Talvez daqui a dois, três anos, quando tivermos o nosso pavilhão e quando houver um enquadramento de todos os escalões jovens (dos minis aos sub-24), as coisas estejammelhor”.

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15 ABR 2005

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