Mário Saldanha: «Lutar por um basquetebol melhor»
Não obstante a problemática situação financeira por que passa o país, Mário Saldanha faz um balanço positivo da época 2012/13.
FPB
2 JUL 2013
Ao nível da formação os índices de satisfação “são elevados” e os campeonatos seniores decorreram como esperado, com as equipas a proporcionarem bons espetáculos. Os cortes orçamentais vão trazer dificuldades, é certo, mas o presidente da Federação da confia nas “gentes do basquetebol” e acredita que, com rigor e seriedade, as dificuldades serão ultrapassadas. Não perca nos detalhes desta notícia a entrevista com o líder da FPB.
Satisfeito com a forma, e o nível, como decorreram os diferentes campeonatos nacionais?Julgo que um dirigente nunca deve estar satisfeito com o que tem. A Direção da FPB tem como mote principal melhorar de forma constante e consubstanciada. A verdade é que a crise que se vive no nosso país reduz bastante os investimentos feitos no Desporto, o que leva, naturalmente, a que haja uma redução no investimento por parte das equipas. Mas a verdade é que, em especial na formação, os nossos índices de satisfação são elevados. Como referi, com a crise que está instalada no nosso país, vamos realizar ou vão realizar-se todos os pontos altos previstos para os campeonatos nacionais. Também nos diversos campeonatos da formação tivemos um nível competitivo muito elevado, com resultados muito próximos. Relativamente aos nossos campeonatos seniores, apesar de alguns contratempos, julgo que correu tudo como esperado. O nível competitivo não foi tão díspare como se esperava e todas as equipas proporcionaram bons espetáculos. Também vimos mais portugueses a atuar e mais jovens integrados nos plantéis seniores, o que claramente deixa uma mensagem de esperança.Resumindo, e dadas as incertezas que se vivem, julgo que correram como esperado, mas como acima referi é obrigação desta Federação lutar sempre pela melhoria do basquetebol no seu todo. É impossível um sentimento de total satisfação quando nos deparamos com tantas contrariedades. Mas, apesar de insatisfeito, sinto-me confiante que, em conjunto, vamos conseguir lutar por um basquetebol ainda melhor. Com tantos problemas financeiros em torno do desporto nacional, preocupa-o a organização das competições da próxima temporada?Em termos organizativos os campeonatos não estão em causa, no entanto preocupa-me a estabilidade e a continuidade dos intervenientes, neste caso os clubes. Compete à FPB organizar as competições mas compete aos clubes conseguirem os apoios para participar nestas competições. Mas sei que os clubes estão a fazer todos os esforços para que a próxima época decorra sem sobressaltos. Dada a atual conjuntura financeira do país, é difícil fazer cumprir os regulamentos?Muito difícil. Mas não nos podemos esquecer que os regulamentos são apresentados no início das provas. Usando uma linguagem mais desportiva, quer dizer que todos os clubes conhecem as regras e que só deveriam ir a jogo se acharem que as conseguem cumprir. De facto, tem sido uma luta muito ingrata tentar que sejam cumpridas regras com as quais todos concordaram. Percebemos as dificuldades que os clubes atravessam, no entanto também eles têm de perceber que a FPB assume junto de outras entidades compromissos decorrentes daquelas provas. De facto, o cumprimento dos regulamentos é indispensável para que as provas possam acontecer. Não nos podemos esquecer que quando a FPB pensa nestes regulamentos, e muito em especial no que toca a questões financeiras, apenas tem como objetivo a sustentabilidade das competições. A FPB não pretende um ganho financeiro com esta regulamentação. Apenas pretende que as competições possam acontecer. Temos consciência das dificuldades que os clubes atravessam mas também as situação que a FPB vive não é fácil. Os cortes no financiamento da FPB levam-nos a ter que repensar a forma como podemos apoiar as competições. No entanto, não posso deixar de referir que em alturas tão conturbadas, apenas o rigor e o cumprimento dos regulamentos nos vai permitir sobreviver e sair desta crise reforçados. Enquanto dirigente Federativo, apenas posso pedir aos nossos associados e clubes que façam um esforço, já que no que toca à FPB estamos a trabalhar para que tudo decorra da melhor forma. Com tantos cortes financeiros, acha que a preparação das diferentes Seleções Nacionais podem sair prejudicadas?Naturalmente. Com estes cortes não previstos tivemos que repensar os trabalhos de cada Seleção. Não esquecer que temos 8 Seleções a competir e que este ano vamos ter o Campeonato da Europa de Sub-16 Feminino em Matosinhos, o que quer dizer que temos 7 Seleções a viajar para o estrangeiro. A verdade é que se tivéssemos sabido atempadamente destes inesperados cortes teríamos planeado a preparação das Seleções de outra forma. Assumimos compromissos internacionais que, dados os atuais orçamentos, certamente não teríamos assumido. Os objetivos para as seleções mantêm-se. Teremos que compensar a perdas financeiras com um trabalho ainda mais árduo. Tenho plena confiança que os nossos técnicos e atletas vão ultrapassar estes contratempos. Aliás, tenho muita confiança na “gente do basquetebol”. Certamente que já falou com o Selecionador Mário Palma, razão pela qual gostaria de perguntar-lhe quais as suas expetativas para esta fase de qualificação?As minhas expetativas são sempre vencer todos os jogos, aliás não consigo estar de outra forma na vida. Tenho consciência que é um objetivo complicado. São muitas equipas e de grande valor a competir apenas por um lugar no Eurobasket de 2015. No entanto, nem só através dos resultados desportivos podemos aferir sobre o sucesso ou insucesso de uma seleção. Sobretudo quero que tenhamos a capacidade para, de forma constante, podermos estar presentes nos maiores palcos do basquetebol internacional. A utilização errática de estrangeiros e a ausência de participações em competições internacionais de clubes levou a que falte experiência aos nossos jovens talentos. Mesmo assim, acredito que com uma liga com mais jogadores portugueses e, continuando o excelente trabalho a ser desempenhado na formação, que seja através do Centro de Alto Rendimento do Jamor, quer seja através da participação em todos os Europeus de camadas de formação, e o trabalho desenvolvido por muito clubes, vão conferindo aos nossos atletas as ferramentas necessárias para a sua afirmação, quer seja nos clubes quer seja na Seleção Nacional Sénior. Agrada-lhe verificar que constam os nomes de vários jovens no grupo dos 18 escolhido pelo técnico Mário Palma?Se analisarmos os convocados vemos um misto de experiência e juventude. Espero sinceramente que paulatinamente jogadores jovens possam contribuir e fazer parte da nossa Seleção, beneficiando do trabalho e contacto com jogadores mais experientes. Naturalmente que não se pretende que a renovação seja feita de forma abrupta, mas julgo que o Mário Palma a conseguirá fazer. O final do seu mandato está cada vez mais próximo. Quais os pontos do seu programa que faz questão de cumprir antes de cessar funções?Se me perguntassem há três anos quais seriam os meus objetivos, certamente que não seriam os que vou enunciar de seguida. Os sucessivos cortes orçamentais levaram a que esta Direção tivesse que tomar algumas decisões complicadas. Assim, e dada a atual conjuntura, quero em primeiro lugar que a FPB continue com uma situação financeira estável. Para isso não se podem cometer loucuras e certamente teremos que reduzir atividade. O orçamento da FPB não é diferente do orçamento de uma família. Neste momento trata-se de assegurar o fundamental, para depois podermos partir para outros patamares.No entanto, julgo que fundamental seria a manutenção de projetos como o Compal Air, a Festa do Basquetebol, a criação de um campeonato de 3×3 enquadrado nos campeonatos internacionais de 3×3 promovidos pela FIBA e a participação constante e continuada em todos os Campeonatos Europeus dos escalões de Formação. A realização do NBA 3X em Lisboa e a realização do BWB em Almada servem de barómetro para a nossa capacidade organizativa. O feedback que temos tido por parte da NBA tem sido fantástico, o que contribui em larga escala para o aumento da notoriedade da modalidade em Portugal. Assim também os potenciais sponsors voltam a ver o basquetebol como um produto que merece uma atenção diferente. Também faria questão de deixar construída uma nova sede para a FPB. Aliás, tenho lutado muito para que esse sonho se possa tornar realidade. No entanto, os sucessivos cortes orçamentais e a falta de apoio por parte da Tutela têm impossibilitado esse sonho. Mas continuo a sonhar…Resumidamente, quero deixar às futuras Direções da FPB um legado de rigor, que não deve ser confundido com a famigerada austeridade. Quero deixar a FPB com a casa arrumada, para que o basquetebol possa ser ainda mais forte. Na sua opinião, o que terá de mudar no basquetebol português, a médio e longo prazo, de forma a que modalidade continue a evoluir e ganhar relevância no desporto nacional?Mais do que mudar, devemos falar em melhorar. Na realidade, o trabalho que está a ser desenvolvido por todos os agentes da modalidade é o correto. Apenas terá que ser melhorado. Temos que nos aproximar de quem gosta de basquetebol. Temos que promover um binómio massificação da prática desportiva/qualidade da prática desportiva. Temos que ter mais gente a jogar basquetebol mas também temos que ter um trabalho ainda mais criterioso na formação. Os clubes portugueses têm que promover a sua participação em competições internacionais, não esquecendo que é fundamental que os seus projetos sejam sólidos e sustentáveis financeiramente. Não esquecer naturalmente que os nossos campeonatos nacionais têm que ser por excelência o palco de afirmação do jogador português. Também é fundamental a criação do conceito do Clube Escola, devidamente legislado e enquadrado pela Tutela. Basta ver o trabalho que desenvolvemos com o Compal Air, onde colocamos mais de 20 mil jovens a jogar basquetebol e depois muitos deles não encontram clubes para continuarem a praticar a modalidade.