Nádia Tavares: “O treino mental ajuda a que o grupo pense todo igual”

Com 100 internacionalizações ao serviço das várias seleções nacionais, 16 das quais pelas seniores, Nádia Tavares é agora Psicóloga do Desporto e está a trabalhar com as Sub20 Femininas, na preparação do Campeonato da Europa que terá lugar em Matosinhos, de 8 a 16 de Julho.

Associações | Atletas | Competições | Seleções | Treinadores
30 JUN 2017

Em entrevista à FPB, Nádia explica o que tem feito com a equipa das quinas e qual a importância dos aspetos mentais no rendimento de uma atleta.

 

Explica-nos que trabalho que estás a fazer com as jogadoras da seleção.
Este tipo de trabalho com seleções consiste em formar uma equipa no espaço de tempo da preparação. As jogadoras vêm com os seus hábitos e formas de jogar e pensar dos clubes, com expectativas por vezes desajustadas. O trabalho de treino mental ajuda a desenvolver um grupo que pense todo igual. O objetivo coletivo é o mais importante, ainda que para isso algumas tenham papéis menos vistosos (mas igualmente importantes), na altura da competição. Isto pode ser um desafio. Todas estão habituadas a ter funções decisivas nos clubes onde atuam (senão não estariam aqui), foram chamadas pelas suas performances que saltaram à vista durante a época. Chegar a uma competição tão importante e abrir mão desse papel em prol de uma equipa requer maturidade. Que, sinceramente, estas atletas em particular têm tido e superaram esta questão rapidamente.
 
Do tempo em que tens estado com a Selecção U20, que aspectos consideras que as atletas desta idade têm maior necessidade de ser trabalhados?
Claramente a reação ao erro. O pensamento, e por consequência o foco do atleta, tem o hábito de ficar preso em acontecimentos que já passaram. É preciso treino mental para reagir e focar na jogada seguinte, na necessidade da equipa e no objetivo coletivo, "ignorando" constantemente o que me aconteceu individualmente. Se esta questão não for resolvida, começamos a lidar com falta de confiança, desconcentração, frustração e consequentemente uma baixa no rendimento desportivo.
 
Enquanto especialista em Psicologia no Desporto e ex-internacional, qual é a influência da parte mental no rendimento de um atleta?
É enorme. Posso ter toda a capacidade física, técnica e tática, se não souber aplicar tudo isto com objetivo, o potencial total nunca é atingido. Isto da mesma forma que se estiver preparado mentalmente e não fisicamente, também não renderei como poderia. Estas quatro áreas estão interligadas sempre. A questão é a pouco importância que normalmente se tem dado às questões mentais. Nesta idade, principalmente, onde os atletas começam a entrar nas ligas mais competitivas, a diferença de horas de treino entre clubes é mínima. Todos treinam mais ou menos as mesmas vezes por semana, quase todos têm acesso a ginásio, fisioterapia e, com um pouco de sorte, trabalho individual. A grande diferença, na minha opinião, está na componente mental. É esta que te permite cair e levantar, é esta que te permite perseverar mesmo quando parece não haver grandes possibilidades, é esta que te faz ver as coisas além do teu problema pessoal e também é esta que, quando por vezes o físico falha, te permite fazer o impossível. A evolução está na capacidade de ir ao nosso limite e só faz isso quem tem disponibilidade mental para dizer que sim a desafios constantes.
 
Associações | Atletas | Competições | Seleções | Treinadores
30 JUN 2017

Mais Notícias