O homem dos lançamentos
Não é todos os dias que se tem a possibilidade de poder acompanhar de perto o trabalho de um dos maiores especialistas em lançamento.
Atletas | Competições | FPB | Treinadores
7 MAI 2011
“Mr Perfect”, alcunha pela qual é conhecido no mundo da NBA, está em Portugal para realizar uma série de clinics, onde dará a conhecer alguns dos seus métodos de trabalho, que fizeram nomes como Jordan, Kobe, Arenas, Ray Allen, entre outros, recorrer aos seus serviços. De uma simplicidade extrema, foi com enorme prazer, curiosidade e interesse que estivemos à conversa com Dave Hopla, uma entrevista que se tornou numa conversa cativante, cheia de curiosidades inacreditáveis.
Desenganem-se aqueles que estejam à espera de aprender receitas milagrosas para criar lançadores de eleição. Dave considera-se um perfeccionista, e acima de tudo num incansável trabalhador. Ele que foi atleta passando depois para treinador no Junior College, e já nessa altura as suas equipas tinham como característica principal as boas percentagens de lançamento. Daí até se tornar um treinador de lançamento foi um pequeno passo, embora confesse que nunca o tinha planeado. “Acho que aconteceu por acidente. Sempre fui um bom lançador e as minhas equipas tinham sempre grandes atiradores. Tal acontecia porque os recrutava bem, para além do trabalho que dedicava aos aspectos técnicos. Comecei por fazer demonstrações de lançamento, campos, a ser contratado por agentes no período pré-draft para os ajudar nas escolhas, bem como a trabalhar com eles.”O ponto de partida do seu trabalho inicia-se com uma observação do atleta, para poder definir o que precisa de ser corrigido de forma a poder evoluir na sua mecânica de lançamento. “Tal como acontece numa casa, começo por me focar nos alicerces da construção. “Olho primeiro para os pés, trabalho de recepção e enquadramento, a que se segue os movimentos dos joelhos. Vou subindo no corpo tendo em atenção a linha de lançamento que o jogador efectua. Não existem dois lançadores iguais, com isto quero dizer que mecânica de cada um é como um traço da sua personalidade. “Tal como quando começamos a aprender a caminhar, a primeira etapa é gatinhar. No lançamento passa-se o mesmo. Devemos começar perto do cesto e irmo-nos afastando do mesmo.” Foi desta forma simplista que Hopla descreveu o processo evolutivo de um jogador que quer tornar-se melhor. “Quando durante os meus treinos me começam a perguntar quando é que vão aprender o lançamento à retaguarda do Kobe, respondo sempre se ele está dentro do pavilhão a treinar com eles. É necessário fazer-lhes perceber que é um processo demorado e que requer tempo e trabalho, havendo por vezes a necessidade de colocar as expectativas deles ao nível da terra.”A questão fundamental do lançamento tem a ver com a mecânica com que ele é efectuado. “O segredo está em aprender a lançar correctamente, com o método perfeito, não criar maus hábitos de lançamento.” E para que isso se torne mais efectivo, Hopla não tem qualquer problema em apontar o “modelo europeu” como o mais acertado para se conseguir isso. “Os americanos deviam copiar o modelo europeu, utilizar as bolas, as alturas e as distâncias apropriadas a cada uma das idades.”Ele próprio é um excelente exemplo da arte de lançar, e a prova que, independentemente da idade, se pode evoluir e tornar-se melhor. “Julho é sempre o meu melhor mês em percentagens de lançamento. Isto porquê? Porque é o mês em que faço maior número de clinics.” Um exemplo prático que com treino é possível melhorar.Estamos a falar de um treinador possuidor de alguns recordes mundiais, como são os casos dos 1234 lances-livres consecutivos, dos 88 triplos seguidos, ou dos 25 lances livres convertidos em 1 minuto. Tudo isto são números que fazem parte dos registos que faz desde os seus 16 anos, onde tem apontado todos os lançamentos que fez, tal como as percentagens que realizou. “Todos os jogadores, desde que tenham abertura e desejo para o fazer podem melhorar o seu lançamento. Nunca lhes falo em mudar o lançamento, refiro-lhes apenas pequenos ajustes ou correcções que precisam de fazer.” Para conseguir o número incrível de 1234, Hople precisou de 1 hora e 45 minutos, pelo que a repetição do movimento se torna mais num “exercício mental”, mais do que outra coisa qualquer. De todos com quem já trabalhou, melhor não tem dúvidas em apontar Ray Allen como o melhor, embora nunca se esqueça da forma como Drazen Petrovic trabalhava na busca da perfeição, e já tenha sido requisitado por muitas estrelas da NBA para evoluírem nesse aspecto do seu jogo. “O atleta da NBA é ambicioso e trabalhador, quer sempre melhorar e está disposto a dar sempre mais para se tornar mais certeiro.” E revela-nos uma história que demonstra bem o grau de profissionalismo dos jogadores da melhor Liga do mundo. “Combinei fazer um clinic individual com o jogador Brandon Jennings que teria a duração de quatro dias. Por questões meteorológicas, só consegui chegar ao meu destino ao final do dia, já perto das onze da noite. Quando me foi buscar ao aeroporto, perguntou-me se estava demasiado cansado para ainda treinar naquela noite pois não queria perder uma sessão de treino. Começámos a treinar à meia-noite.”O tempo para treinar na NBA é curto, para além do facto da temporada ser muito longa. “Mais do que obrigar os jogadores a lançar, é necessário ler em que condições estão.” Para Dave o maior desafio que ele tem como treinador, é conseguir fazer com que eles por iniciativa própria se desloquem ao pavilhão para treinar. “Dar-lhes as ferramentas necessárias e criar-lhes os desafios para que se sintam motivados em querer lançar ao cesto. Registar tudo o que lançam, estabelecendo metas a atingir nas percentagens de lançamento.” Foi assim que aconteceu com os Washington Wizards onde conseguiu excelentes resultados.Em tom de brincadeira costuma dizer “que já seria milionário se recebesse um dólar por cada vez que lhe perguntaram porque nunca treinou Shaq.” Ele próprio confessa que já por diversas vezes, e através de diferentes pessoas já tentou chagar à fala com Shaq e Dwight Howard. “Já lhes envie mensagens escritas, falei com amigos comuns e lhes transmiti que podia melhorar-lhes o lançamento.”Fanático pela perfeição, Dave estabelece todos os anos a meta dos 98% como sendo o seu mínimo a atingir no total de lançamentos que diariamente regista. Já foram várias as demonstrações com a duração de 45 minutos que Hopla fez de forma perfeita sem falhar um único lançamento, ou então como aconteceu, em Barcelona, converteu 300 dos 301 tiros que lançou.Para aqueles que procuram um conselho para se tornarem grandes lançadores, Dave Hopla, na condição de ser um dos maiores especialistas mundiais, deixa duas coisas: – a primeira é fácil, lançar da forma mais correcta possível, com o método mais perfeito.- a segunda um pouco mais complicada, querer lançar correctamente o maior número de vezes possível.O nosso bem conhecido Carlos Barroca, com o apoio da ENB e AIPD (custeou a viagem), uma instituição sem fins lucrativos, tornou possível a vinda ao nosso país de um dos melhores treinadores de lançamento, agendando uma série de clinics, para treinadores e praticantes, para os próximos dias.A ENB realiza dois clinic com Dave Hopa, um especilista na metodologia e ensino do Lançamento. Estas duas acções são creditadas pela ENB.Em Algés no Pavilhão do Sport Algés e Dafundo pelas 21.30 horas e em Coimbra pelas 21 horas no Pavilhão Multidesportos Dolce Vita Comparece. Inscrições para ENB via email catiamota@fpb.pt ou no local.Sábado de manhã, 9h – 10.30h, no Restelo, e da parte da tarde, em Ílhavo, na Esc. Sec. de Ílhavo, ás 16.30h, numa acção para atletas e praticantes.