«Os meus filhos têm orgulho em mim»
Mãe, esposa, professora de português e francês no liceu, dona de casa e jogadora de basquetebol.
Atletas
18 NOV 2015
Anabela Vasconcelos, poste de 1,75 metros, é um dos maiores exemplos de longevidade que podemos encontrar no nosso desporto em Portugal. Tem 50 anos e jogou até à época passada no Illiabum Clube, quando decidiu colocar um ponto final na (longa) carreira. Mas será definitivo? As saudades do som da bola a entrar no cesto, dos treinos e do ambiente do balneário já fizeram com que regressasse outras vezes. Para já tem via verde para treinar no Illiabum, depois logo se vê. Nos anexos desta noticia pode ler a 2ª parte da entevista, em que Anabela revela a importância da familia, e a paixão que ainda sente pelo basquetebol.
É professora de quê?
Sou professora de português e francês no Agrupamento de Escolas de Oliveirinha. Há uns seis anos estive envolvida no Desporto Escolar da escola. Como tinha o curso de treinadora nível 1 , consegui que me atribuíssem algumas horas para integrar o núcleo do Desporto Escolar acabando por formar uma equipa de basquetebol de iniciados.
O apoio familiar foi importante para esta sua longevidade no desporto?
Quando regressei, os meus filhos tinham 8 e 6 anos. Já comiam sozinhos, o meu marido ajudava pois estava com eles à hora do jantar e eu acompanhava-os na hora de dormir… E assim consegui conciliar tudo. Só que é fundamental fazer opções; por exemplo, quando estudava na faculdade, chegava a casa após os treinos e não saía como faziam algumas amigas minhas, no entanto, arranjava tempo para fazer tudo aquilo que gostava. É importante ter uma boa retaguarda, mas é essencial ser-se organizada e metódica, e o basquetebol ajudou-me muito nesse sentido. Por exemplo, no ano passado havia um dia que tinha treino das 22h30 à meia-noite, chegava a casa por volta da 1h00 da manhã e sabia que, nesse dia, não podia deixar trabalho da escola para fazer à noite, tinha de o fazer antes. O basquetebol ajudou-me a crescer como pessoa e mulher.
Chegou a cruzar-se com ex-alunas no Basquetebol?
Não. Mas no ano em que lecionei no liceu onde estudei, em São João da Madeira, estava a jogar na Sanjoanense e um dia houve um problema no pavilhão que nos impossibilitou de treinar e tivemos de ir para outro, onde estava uma equipa de miúdos. Fizemos um treino conjunto e entre os atletas estava o Paulo Pinto, que era meu aluno. Um miúdo inteligentíssimo, muito bom jogador, chegou a ser internacional e talvez um dos melhores jogadores da sua geração…
Como se sente fisicamente?
Considero que estou bem. Claro que não consigo acompanhar quando o jogo é muito rápido, não faço sprints, mas acompanho minimamente. Sinto que não sou a mesma em termos de velocidade, reflexos e mudanças de direção. Sempre fui uma excelente ressaltadora. Às vezes, vou ao ressalto e sinto que aquela bola é minha, mas de um momento para o outro, outra colega apanha-a e parte para o contra-ataque (risos).
No ano passado jogava em média quanto tempo?
Nunca contabilizei. Uns cinco ou seis minutos por período, às vezes um período inteiro. Quando saía, sentia-me bem. Treinávamos quatro vezes por semana.
Os seus filhos também jogam?
Sim e sempre encararam o basquetebol de uma forma responsável mas divertida. Na escola onde eles fizeram a primária há um campo com duas tabelas e quando eles eram pequenos íamos para lá brincar. Nas férias, levamos sempre uma bola para o caso de haver um campo por perto.
Sentem orgulho na longevidade desportiva da mãe?
Sim, têm orgulho em mim. Acham divertido a mãe jogar basquetebol. Lembro-me que quando eram mais pequenos, iam muitas vezes ver os meus jogos e adoravam ver a mãe em campo.
A mãe influenciou-os a jogar basquetebol?
Bom, quando eram pequenos, levámo-los para o minibasquete. Talvez tenha havido alguma influência, não sei… O mais velho, já na escola primária, um dia, disse-me que queria jogar futebol, como os amigos. E eu disse-lhe “Oh filho, o futebol joga-se à chuva, ao frio, no basquete estás quentinho…” Nunca fui grande adepta de futebol, vejo os jogos da seleção e pouco mais, não me via a acompanhar jogos de futebol ao fim de semana… Felizmente ficou. O Tiago, que é o mais velho, tem 21 anos, jogou no Illiabum e no Esgueira, agora está a fazer Erasmus em Madrid e joga numa equipa espanhola. O Bernardo tem 19 anos, jogou no Illiabum e este ano decidiu parar. Mas eles gostam imenso de basquete, tal como eu e o pai que também jogou no Illiabum e no Esgueira. Está-lhes no sangue, no ADN.
Sempre jogou a poste?
A poste e na posição 4. Quando comecei a jogar era uma das mais altas (1,75m), por isso jogava próxima do cesto. Tive alguma dificuldade em adaptar-me aos novos conceitos, em vir para fora. Mas gostava de ter jogado a base!
Ainda vai a tempo.
(Risos) Sim, adorava … Às vezes pedia ao treinador para me deixar levar a bola. Quando iniciei o meu percurso, jogava sempre perto do cesto, era raro levar a bola para o ataque, nunca fui grande lançadora exterior. Naquela época, os treinadores acabavam por nos limitar um bocadinho.
Mas gostava de continuar?
Reconheço que sim. Sinto falta da bola, das colegas, de toda a dinâmica do treino, do balneário. Nunca gostei de ginásio. Não vou parar ainda, vou treinar para ‘matar o vício’ e se o treinador me convencer a continuar…
Consegue viver sem basquetebol?
(Risos) No hall de entrada da minha casa, tenho uma bola assinada pela Ticha Penicheiro e pelo Nelson Évora, atletas que considero campeões. Quem entra, sente um cheirinho a basquete, a desporto…