Pais, procuram-se…

Associações
19 DEZ 2006

uitos pais continuam a ignorar a vida desportiva dos filhos. A falta de tempo é o argumento mais utilizado, mas existem outros factores… Distanciamento, desinteresse, mas também “falta de laços entre o clube e a comunidade”, refere o psicólogo Francisco Simões.

No último Eencontro de Minibasquete, em Aangra do Heroísmo, fomos à procura de testemunhos. O nosso público alvo, crianças entre os 6 e os 11 anos, participantes na actividade, que responderam de tudo. desde “eles não vêm porque têm pouco tempo”, passando por “não puderam vir hoje, mas acho que vão vir um dia”, até um surpreendente “não vêm porque eu não gosto”. Claro que houve opiniões positivas, e uma ou outra (de entre as dez atletas que ouvimos), revelaram que os pais acompanham a actividade “muitas vezes”, nem que seja “dando apoio em casa”. Mas a grande maioria revelava falta de acompanhamento e falta de presença física, nos jogos ou nos treinos. Basta dizer que estavam cerca de uma centena de atletas no campo e menos de duas dezenas de pais na bancada… Porquê? Francisco Simões, psicólogo, responde à pergunta e tenta encontrar o antídoto para combater a ausência.“A questão tem muito a ver com o facto das actividades físicas estarem ligadas a um conceito de lúdico. Por isso, como não está associado a um objectivo futuro, leva a que os pais se divorciem deste tipo de actividades. Provavelmente o que acontece é que não percepcionando este tipo de importância, acabam por desvalorizar este tipo de actividade”,refere o psicólogo, que confirma esta desunião e acrescenta outro factor: “Muitas das actividades que são desenvolvidas nos clubes, são muito assumidas pelo clube (dentro de uma competição), mas não são assumidas como uma dinâmica da comunidade. O que acontece é que, quer por via da não participação das famílias quer por via da não identificação das pessoas com o clube, todos se afastam… Para resolver este aspecto seria importante que os próprios clubes desenvolvessemos laços que os unem à própria comunidade”.“Presença é importante” depois de confirmada a ausência e as razões para que esta aconteça, é tempo de saber as vantagens de uma maior presença. No fundo, as consequências de uma ida ao Pavilhão. Simões confirma o senso comum, referindo que, “é claro que era benéfico que houvesse mais acompanhamento”. quer ao nível do desempenho, mas sobretudo ao nível da motivação, para o psicólogo “é óbvio que a participação dos pais e o seu envolvimento leva a que os praticantes consigam melhorar os seus níveis de bom desempenho, de competitividade e o seu envolvimento com o próprio desporto”. Para além disso, refere que “todo o tipo de actividades que permitem que os pais estejam num contexto mais informal e em que não há tanto a hierarquia entre pais e filhos, vai permitir uma maior proximidade entre o pai e o filho”.No papel de dirigente, Ângelo Faria lida todos os dias com o desinteresse, fazendo muitas vezes papel de figura paternal, tentando criar uma segunda família para as atletas no seio do clube que representa. Para ele “já há alguma melhoria, mas ainda não é aquilo que queríamos”. Refere que “ainda falta qualquer coisa. Mais envolvimento deles e também mais trabalho nosso, no sentido de cativar mais os pais para outras actividades para além das actividades desportivas”. Uma opinião que vai ao encontro daquilo que defende Simões… “Este envolvimento poderá surgir no sentido dos filhos para os pais, mas acho que o trabalho dos clubes no sentido de criarem identificação com os pais e a comunidade, mais facilmente vai trazer os pais aos jogos.”Ou seja, os clubes devem também fazer mais. sugestão?Para o psicólogo “é preciso criar momentos que unam pais, filhos e clube, fora da actividade física. criação de alguns elos informais entre as pessoas, pode levar a uma aproximação. Não é só dizer ‘venham ao jogo’. É dizer isso, mas acrescentar ‘venham ao jogo e venham fazer também outras coisas’… Pode ser um lanche ou outra actividade qualquer em que as pessoas partilhem algum tempo”.

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19 DEZ 2006

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