Seleções Nacionais

Se por um lado tem pena de ver os Centro de Treino encerrarem (dos seis que já existiram atualmente subsistem apenas dois), por outro não deixa de sentir orgulho nos resultados que as Seleções jovens têm vindo a alcançar.

Mário Saldanha elege a presença no Europeu sénior de 2007 como um dos momentos mais altos e lamenta ter assistido a recusas por parte de alguns jogadores em vestir as cores de Portugal.

 

Na sua opinião, e durante todos estes anos em que acompanhou as Seleções, apercebeu-se que os jogadores foram sentindo de maneira diferente a possibilidade de representar Portugal?

 

Senti por parte de muitos atletas o desejo de se mostrarem indisponíveis para representarem as seleções, alegando problemas de ordem física. E em muitos desses casos veio a constatar-se que não era verdade. Julgo que deverá ser algo normal ter orgulho em jogar numa seleção, e se gostam do país devem sempre sentir-se privilegiados por poderem representar a bandeira de Portugal. Senti que alguns jogadores, entenda-se masculinos e femininos, foram “desrespeitosos” quando se recusaram a jogar por Portugal. Felizmente que este tipo de situações não acontece nas seleções mais jovens

 

O contacto internacional do basquetebol português está praticamente reduzido à participação das S. N. nos "Europeus" das diversas categorias. Que análise faz desta realidade? Como se explica que, apesar do isolamento crescente nos últimos anos (em especial no sector masculino), as S. N. jovens consigam resultados tão positivos?

 

Realmente, a não participação de clubes durante anos em competições europeias cria uma enorme dificuldade para a afirmação das Seleções Nacionais no panorama internacional.

Como explico estes resultados? Em primeiro lugar, os Centro de Treino são fundamentais para este sucesso. Apesar de neste momento apenas termos dois (Car Jamor), já tivemos 6. Em segundo lugar, apostamos claramente na participação em “Europeus”. Todos os anos temos 6 seleções jovens a participar nestes campeonatos. Naturalmente que o custo financeiro é elevadíssimo mas é a única maneira de nos aproximarmos do topo, sendo por isso estratégica para o basquetebol Português. Em terceiro lugar, uma aposta clara em treinadores de elevado nível na formação, muitos, antigos internacionais que oferecem aos mais jovens a sua experiência. Basta ver o currículo de treinadores como André Martins, Catarina Neves, Eugénio Rodrigues , Mariana Kostourkova, Carlos Seixas e Raúl Santos, sem deixar de referir naturalmente o Rui Alves, que entretanto abraçou um novo e ambicioso projeto, para percebermos que levamos muito a sério as nossas seleções jovens. Em último lugar, refiro também a nossa aposta na formação de treinadores através da Escola Nacional do Basquete, e a aposta dos clubes em treinadores capazes. A casa começa-se a construir pelos alicerces e os clubes, são sem dúvida o pilar mais forte da Modalidade.  

Também não nos podemos esquecer dos esforços que temos desenvolvido para colocar atletas jovens em países como Espanha e Estados Unidos, quer seja a nível financeiro, quer seja criando as plataformas para que eles se possam “mostrar”

Não posso deixar de referir no entanto que Benfica e Quinta dos Lombos voltaram às competições europeias, algo que vai sem dúvida ajudar-nos a obter melhores resultados a nível internacional.

 

Permanece convicto que os Centros de Treino continuam a ser uma importante e fundamental base de recrutamento para as Seleções Nacionais e os próprios clubes nacionais? 

 

Não tenho dúvidas. Face ao diminuto investimento é natural que exista mais em qualidade do que em quantidade. Mas ainda assim é indesmentível a qualidade do trabalho efetuado nos Centros de Treino, que pode facilmente ser retratada no números de atletas que atualmente participam nas principais Ligas, bem como na Proliga e 1ª Divisão Feminina. Exemplo claro desta mais valia é o facto de sermos dos poucos países da Europa a termos as 3 seleções femininas na Divisão A. Isto tem muito a ver com o trabalho que é e era feito nos Centros de Treino, e foi como uma pedrada no charco que colocou em relevo o grande trabalho realizado no sector feminino em Portugal.

 

Aceitaria o desafio de convocar a sua Seleção após 24 anos a acompanhar tantos internacionais?

 

Sim, claro.

 

Bases

Joaquim Carlos

Augusto Baganha

Pedro Miguel

 

Extremos

Carlos Lisboa

Nelson Serra

Rui Pinheiro

Carlos Seixas

 

Carlos Andrade

João Santos

Sérgio Ramos

Zé Alberto

António Pratas

Mário Albuquerque

Paulo Pinto

 

Postes

Élvis Évora

Steve Rocha

Mike Plowden 

 

Existiu algum momento em que tenha sentido que a Seleção de Portugal passou a ser olhada de forma diferente, e a merecer maior respeito no contexto do basquetebol Europeu?

 

Sim, especialmente a partir de 2006/2007, já que depois na nossa qualificação e prestação no Europeu passámos a ser olhados de forma diferente. Até a nossa vizinha Espanha começou a prestar mais atenção a nós, e a própria FIBA, que reconheceu o nosso grande trabalho. Mas não só dentro das quatro linhas a nossa capacidade de trabalho foi reconhecida, já que se estendeu a outras vertentes, com dirigentes portugueses a fazerem parte dos órgãos da FIBA. Eu próprio fui membro do Conselho Fiscal, o Dr. Jorge Sarmento fez parte do Conselho de Jurisdição, o Dr. Valério Rosa integrou o departamento médico da FIBA e o Prof. Manuel Fernandes tem feito quase sempre parte do Board da FIBA. A atribuição da organização de Europeus é outro sinal da confiança na competência que Portugal sempre demonstrou quando teve a responsabilidade de colocar de pé esse tipo de eventos. Não é por acaso que nos atribuíram o penúltimo Europeu de Sub 16 Feminino, Divisão B, e o último de Sub 18 Feminino, Divisão A, para além de outros europeus masculinos mais antigos.

 

As presenças nos Europeus de Seniores Masculinos justificaram e compensaram tantos sacrifícios e batalhas travadas durante anos e anos?

 

Justificaram mas não compensaram. E compare-se a situação vivida por duas seleções que terminaram empatadas no Europeu de 2007. Portugal foi 9º classificado e partir daí houve um desinvestimento por parte da tutela relativamente aos apoios que eram concedidos até então. Por outro lado, a França, que foi 9ª a par de Portugal, foi vencedora do último Europeu disputado em 2013. A falta de verbas obriga-nos a que tenhamos de criar algum endividamento por parte da FPB para garantirmos que as 8 seleções nacionais participem nos respetivos Campeonatos da Europa. Os custos envolvidos em estágios e viagens são muito elevados e temo que a FPB venha a ter muitas dificuldades para continuar a garantir a presença das seleções nessas competições. Não nos podemos esquecer que o caráter periférico do nosso país leva a que deslocações para contacto internacional sejam sempre muito dispendiosas.

 

Algum selecionador que o tenha marcado durante a sua liderança como Presidente da FPB?

 

Valentyn Melnychuk e Mário Palma. Não posso igualmente esquecer o trabalho realizado e a grande travessia no deserto feita pelo Vladimir Heger. Que teve a paciência e a competência suficientes para fazer crescer a seleção nacional, fazendo aumentar a sua competitividade, numa altura em que figuras importantes da seleção, como foram os casos de Carlos Lisboa, Mike Plowden, Steve Rocha, João Seiça e outros, se retiraram. Valentyn Melnychuk garantiu-nos a presença num Europeu e ficará para sempre ligado ao fantástico desempenho que conduziu uma seleção portuguesa ao 9º lugar num Cmpeonato da eEuropa. Mário Palma porque para além de nos ter garantido a presença no Europeu de 2011, é simplesmente o melhor treinador português de todos os tempos. Foi um orgulho tê-lo como selecionador nacional beneficiando de toda a sua sabedoria e experiência.

 

 

 

Momentos caricatos:

 

Uma a viagem a Perme, fronteira com a Sibéria, tornou-se impossível de ser esquecida por Mário Saldanha. Sem aeroporto, ou melhor, era um contentor, as condições então oferecidas à seleção nacional eram miseráveis. Como chefe da comitiva,  recorda que até o açúcar era pago à parte e a comida não era farta. Resolveu oferecer um jantar a toda a equipa, e um restaurante espanhol foi o escolhido para o repasto. Só que o prato encomendado, uma paelha, não chegou para todos. Um terço dos presentes não teve direito a comer, isto porque a cozinha não conseguia fazer mais, mesmo quando se estava a pagar um preço exorbitante pelo jantar.

 

Apesar de ser uma cidade pequena, quase no meio do nada, Saldanha tem presente na sua memória um pavilhão com mais de 10 000 pessoas para assistir ao jogo. Bem como, o facto da seleção nacional ter sido obrigada a interromper o aquecimento, já na sua parte final, para ser feita uma homenagem a um antigo jogador. Esta “pausa” incluía a passagem de imagens sobre a história da vida dele, e ainda nos dias de hoje se questiona como terá sido possível aquilo acontecer com a conivência da FIBA.

 

Outra situação caricata, e que envolveu Mário Saldanha, aconteceu na Islândia numa deslocação da equipa nacional. O saudoso Vítor Hugo, como era hábito acompanhava a equipa, não escapou, à chegada, a uma queda no gelo quando saía do autocarro. Depois de verificado que estava tudo bem com ele, e vários avisos, a imagem dele a descer do quarto em pantufas para ir assistir ao treino da tarde, proporcionou um dos momentos mais hilariantes a Mário Saldanha enquanto chefe de uma comitiva.

31 OUT 2014