“Sentimos que é praticamente impossível o surgimento de novas equipas”
Entrevista a Mário Rocha, presidente da AD Vagos
Atletas | Competições
21 SET 2020
Em entrevista à FPB, o presidente da AD Vagos, Mário Rocha, abordou o ano de arranque da equipa de BCR e as dificuldades inerentes à iniciação na modalidade.
Apesar do cenário adverso que enfrentamos, a AD Vagos renova o compromisso com o BCR e participará na 2.ª Divisão. Quais as metas para 2020/21?
A AD Vagos Núcleo tem, como meta, a consolidação deste projeto de BCR, em termos estruturais, financeiros e de enquadramento humano.
De que forma têm atacado a tarefa de captar mais praticantes para a modalidade?
A captação de novos praticantes é muito difícil. Tem sido feita através de abordagens pessoais a potenciais praticantes e entidades. A carência de equipamento específico, nomeadamente cadeiras de rodas, também é um óbice relevante.
Quais as principais dificuldades com que se têm deparado para levar a bom porto o projeto?
A carência de equipamento específico e toda a logística envolvente, como transporte, alojamento. A captação e a fidelização de apoios a esta causa é muito difícil. No primeiro ano, avançámos sem qualquer tipo de apoio, para além da cedência protocolada de duas cadeiras de rodas por parte da FPB. Conseguimos sensibilizar a Universidade de Aveiro, a quem a FPB tinha cedido três cadeiras, a emprestarem-nos as mesmas. Um grande reconhecimento ao Sporting CP/APD Sintra, que também nos facultou uma cadeira que já não utilizavam, que para nós se revestiu de enorme importância. Uma palavra de apreço para todos os elementos da FPB ligados ao BCR, pelos ensinamentos, compreensão e ajuda. No entanto, o ano de arranque representou um enorme esforço, sobretudo na sensibilização para a modalidade. Os encargos foram suportados pelo clube mãe, AD Vagos.
O que há a mudar para o crescimento do BCR nacional e, em particular, de projectos em iniciação como o da AD Vagos?
Do nosso primeiro contacto com a organização do BCR, ressaltam dois sentimentos algo contraditórios: por um lado, a recetividade, ajuda e preocupação com a nossa integração no meio; por outro, sentimos que, em termos materiais e humanos, é praticamente impossível o surgimento de novas equipas. Apesar do esforço da FPB, a cedência de apenas duas cadeiras para um clube que pretende lançar-se nestas andanças é, manifestamente, insuficiente. Poderia criar-se um “banco” de cadeiras para facilitar o arranque de novas equipas. A organização das provas é mais propensa ao afastamento do que à atração de novas equipas. Todos se deviam interrogar porque é que ao longo de várias décadas, as equipas intervenientes são praticamente imutáveis, e porque é que a percentagem de praticantes fica aquém do previsível. Que sentido faz um calendário em que uma equipa não apresenta uma atividade regular ao longo da época, com intervalos de meses entre jogos, e, em contrapartida, tem jogos consecutivos em certas semanas, com alguns a serem disputados no mesmo dia e, mais grave ainda, um a seguir ao outro, sem qualquer intervalo a separá-los? É possível, desta forma, promover a modalidade, sensibilizar entidades, motivar atletas, programar a época desportiva? Quanto a mim, não.
Além disso, como é que uma equipa que se está a iniciar, e com elementos que pela primeira vez têm contacto com esta modalidade, se pode defrontar com muitos atletas de equipas extremamente rotinadas, alguns inclusivamente da Seleção Nacional? É como se se misturassem os praticantes iniciais do basquetebol a pé (minis) com os seniores do SL Benfica, FC Porto, UD Oliveirense e elementos da Seleção Nacional! Este facto origina que, quem se está a iniciar, facilmente se consciencialize de que não consegue, não tem jeito e desista…
Qual seria o modelo competitivo mais indicado para quem se inicia?
Atendendo a que um Campeonato Nacional é muito exigente em termos de duração e gastos, sugiro a criação futura de encontros ou torneios oficiais, a serem realizados uma, duas ou três vezes por ano, por exemplo, ligados a alguns pontos altos, apenas por equipas em formação, que não integrem as 2.ª e 1.ª Divisões, e sem elementos destas.