“Vencemos três jogos, o que é um recorde para uma equipa africana num Mundial”
Mário Palma, nome que dispensa apresentações na história do basquetebol nacional, e atual selecionador da Tunísia, analisou a participação da sua equipa no recente Mundial da China.

Competições
22 SET 2019
A formação africana, que tem ainda como adjunto Ivan Kostourkov, ficou às portas do apuramento direto para os Jogos Olímpicos. Entrevista a não perder.
Que balanço faz da participação da Tunísia neste Mundial?
Foi muito boa, mas não atingimos o objetivo de qualificação para os Jogos Olímpicos. Tínhamos capacidade para isso, mas falhámos no jogo diante de Porto Rico, em que perdermos na última posse de bola deles.
A pressão e a falta de experiência notaram-se muito durante esse jogo, e por isso não fomos competentes para suportar a pressão porto-riquenha. Falhámos lançamentos fáceis, registámos turnovers e por isso perdemos, infelizmente, já que éramos a melhor equipa do grupo a seguir à Espanha, a meu ver.
Em condições normais ter-nos-íamos qualificado para os Jogos Olímpicos, e a verdade é que ganhámos três jogos – o Irão qualificou-se com três triunfos – e vencemo-los mesmo. Contra a Espanha estivemos muito bem na primeira parte, e por isso a participação foi boa.
Apesar de Porto Rico e Irão estarem acima de nós no ranking, provámos que podíamos ter garantido o apuramento. Vencemos três jogos, tal como a Nigéria, o que é um recorde para uma equipa africana num Mundial.
E como projeta o Torneio Olímpico de qualificação?
Vamos encontrar equipas fortíssimas, sendo que existem quatro vagas, com oito equipas já apuradas. Será muito difícil, não sei como se definirão os grupos, mas é de esperar muito equilíbrio.
Para uma equipa como a Tunísia será muito complicado ficar em primeiro no grupo, a acontecer seria tremendo. Não há impossíveis, mas adivinham-se muitas dificuldades para as formações africanas e asiáticas.
Prevejo que se apurem quatro equipas europeias, não esquecendo que neste lote de países surgem a Eslovénia, atual campeã europeia, Polónia e Alemanha, entre outras.
A nossa grande hipótese de apuramento seria por intermédio do Mundial, e reparem como ficámos pelo caminho por pontos, com a segunda parte diante da Espanha a revelar-se decisiva. Ficámos empatados pontualmente com a Nigéria, mas o cesto-average foi-lhes favorável.
Como olha para este Mundial, avaliando toda a competição? Que aspetos mais destaca?
Organizar um Mundial com 32 equipas nunca é fácil, e só um país como a China para o organizar sozinho. Nesse aspeto, de facto, a competição foi muito bonita.
O lado mais negativo prendeu-se com algumas viagens muito longas, com a França, equipa fortíssima, a sair prejudicada, quando alimentava esperanças de ganhar a prova.
Os EUA apresentaram-se com uma equipa de terceira-quarta linha, e provaram não ser assim tão fortes para se darem a este luxo, apesar de serem, claramente, a maior potência mundial.
Cada vez há mais jogadores europeus na NBA e por isso verificou-se um grande equilíbrio, sendo que a Espanha acabou por beneficiar de uma média de idades de 30 anos, com vários atletas a alinhar no Real Madrid e Barcelona, revelando uma grande experiência.
A Espanha é o país com mais medalhas internacionais nos últimos 20 anos e eliminou a Austrália após dois prolongamentos, uma das seleções que mais hipóteses tinha de se sagrar campeã.
A meu ver, a grande surpresa foi a Argentina, “levada às costas” até à final pelo Scola, um jogador de 39 anos, mas no jogo decisivo não houve nada a fazer. A formação espanhola foi um vencedor justo, numa competição que provou que cada vez é maior o equilíbrio a nível mundial.
Por último, destaco a Nigéria, que organizou um estágio a envolver 44 jogadores, muitos oriundos da NBA e de clubes da Euroliga. É a única seleção, fora dos EUA e do espaço europeu, que se pode bater com os gigantes, podendo mesmo qualificar-se na fase de grupos dos Jogos Olímpicos.
É uma equipa com jogadores de grande qualidade, que saem muito cedo para outros países, e por isso temos de os seguir com atenção.