O treinador e a crise viral - Quem somos?
Sem margem para dúvidas, sabemos como devemos ser!
Seres sociais que dialogam e interagem (sempre!) através de comportamentos com uma determinada finalidade, revelando uma enorme capacidade expressiva dirigida a tudo o que nos rodeia. Tal como está demonstrado que adquirimos de forma continuada, uma verdadeira sabedoria comportamental que não é possível de explicar exclusivamente pela via física, fisiológica, neurológica ou sociológica.
Sentimos todos os dias que, ao movimentar-nos, o fazemos integrados em experiências, culturas, emoções sentimentos e intenções que, não só correspondem à complexidade do ser humano, como o respetivo estudo exige que os seus conteúdos sejam definidos com base na realidade social, cultural, política e económica da sociedade em que nos integramos.
Não é grande novidade que, comunicamos, não só através das palavras que proferimos e do tom de voz que utilizamos mas, principalmente, pela expressividade gestual e facial que utilizamos a cada momento. Basta olhar à volta e sentir quanto por vezes uma determinada expressão facial nos incomoda! E o mesmo se passa no que diz respeito a, ao estarmos na presença uns dos outros, sempre que pretendemos comunicar, “carregarmos” todo o nosso passado de experiências, crenças, inseguranças.
Gradualmente, fomos aprendendo que olhamos, sentimos, experimentamos através de um corpo fenomenal e ativo que se relaciona com os outros e o meio ambiente de um modo social e cultural, influenciando e deixando-se influenciar. O que significa que os nossos sentidos não decalcam pura e simplesmente a realidade exterior, abrem sim o nosso corpo para tudo o que o rodeia numa comunicação continuada e mutuamente influenciadora.
Todos nos sentimos já envolvidos num verdadeiro círculo relacional, sensorial e motor, numa conivência dinâmica capaz de interligar a ação humana com o meio ambiente, a cultura vigente e a generalidade dos processos sociais e históricos em curso. Uma circularidade entre as experiências vividas e o nosso próprio corpo, que induz a aprendizagem e a sabedoria comportamental necessárias. Experiências percetivas sustentadas pela nossa plasticidade corporal, projetando-nos no meio ambiente enquanto unidade vital, sensorial e dinâmica, (como um todo), não fazendo sentido persistir na tese científica que perdurou durante anos que procurava compreender o ser humano, estudando simplesmente cada uma das suas partes, (o físico, a fisiologia, a neurologia, a psicologia, a psiquiatria, etc.).
Qual é a dúvida que participamos (sempre!) na vida social como um todo que manifesta emoções e sentimentos, expressando-nos através da nossa motricidade, (movimentos), permitindo que, por essa via, nos observem e percebam como somos? Ou que o nosso visual, o nosso andar, os nossos gestos, o modo como falamos e olhamos, o nosso tom de voz, tudo funciona para os outros como a informação que precisam para nos compreender e avaliar?
Nada de novo, afinal! Mas algo nos tem faltado (e muito!) ao longo dos tempos! Poucos temos a perceção que, afinal, a resposta que carecemos acerca de “quem somos?”, só verdadeiramente nos pode ser dada por aqueles com quem nos relacionamos diariamente. Só através do feedback daqueles que nos conhecem bem e acompanham o nosso trabalho, podemos verdadeiramente estar informados acerca de quem verdadeiramente somos.
Científica e filosoficamente, está hoje absolutamente comprovado que nos comportamos centrados na complementaridade da razão e da emoção, da imaginação e da criatividade. E que o fazemos através de um constante processo de superação resiliente ao nível da aprendizagem, da criação e da realização pessoal que está muito para além da simples luta pela sobrevivência. Possuímos um corpo vivo e sensível, que se torna humano através da palavra e utiliza a linguagem como meio fundamental de perceção dos outros. E caracterizamo-nos através de uma perceção que tem sempre na sua origem uma experiência anónima e pré-pessoal que incorpora o mundo através de uma via intersubjetiva, (veja-se o fenómeno das “primeiras impressões”).
No fundo, influenciamos e somos influenciados. Mas, na maioria das vezes, acontece-nos tudo isto de forma inconsciente. Emergindo daí emoções e sentimentos que dificilmente controlamos. O que nos coloca socialmente perante o desafio, (incontornável!) de, (muitas vezes!), termos um impacto nos outros precisamente oposto ao que pretendíamos alcançar.
E aqui reside o primeiro desafio comportamental para os treinadores do futuro. Quem somos, afinal?
Jorge Araújo | presidente da Team Work Consultores
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