Augusto Pinto: “A qualidade competitiva superou muito a da época passada”

Presidente do CNBCR aborda os desafios do BCR nacional, com o foco em 2022/2023

Competições
11 AGO 2022

O presidente do Comité Nacional de BCR (CNBCR), Augusto Pinto, analisa uma temporada intensa para o BCR nacional, marcada pela subida da competitividade e participações internacionais das seleções. O responsável máximo pela gestão da modalidade vinca a importância de se adotar uma “atitude profissionalizante” para a escalada de nível. Só assim será possível encarar os compromissos internacionais das seleções em (maior) igualdade.

Não obstante, nesta entrevista, Augusto Pinto sublinha a “qualidade de exceção” alcançada pela seleção nacional sub23, refletida na medalha de bronze nos Jogos Paralímpicos Europeus da Juventude, em Pajulahti, Finlândia, e no fluxo de jogadores que migram do projeto para renovarem a seleção principal com sucesso. No tocante à seleção “A”, o presidente do CNBCR reconhece a necessidade de redefinir métodos de trabalho e formas de atuação, embora saliente o enquadramento de Portugal num dos grupos mais árduos da competição, fruto de um “critério de estabelecimento de grupos” que gerou controvérsia.

 

1- Que degraus subiu o BCR português na época 2021/2022?

Na época que terminou, a qualidade alcançada pelo BCR nacional situou-se num evidente patamar superior. O exemplo disso mesmo foi o excelente espetáculo desportivo que se verificou na Fase Final da 1ª Divisão e a sua projeção a nível nacional.

Temos ainda um longo caminho a percorrer para que em Portugal se atinja a projeção verificável em outros países. Mas entendemos que, com o esforço de todos os atletas, clubes, dirigentes e Federação, ser possível alcandorar a outros patamares e ter um projeto impactante da modalidade a nível nacional. Só com uma atitude profissionalizante de todos será possível passar a outra realidade de desenvolvimento.

2 – A seleção nacional não alcançou um objetivo assumido – pese embora o sorteio desfavorável. Como avalia o trajeto no ECMBC – Sarajevo?

Quando estabelecemos linhas orientadoras para alcançar objetivos, subida da Seleção Nacional “A” à Divisão B da Europa, contámos com dificuldades, mas não sermos torpedeados, como aconteceu, com o critério de estabelecimento de grupos (não sorteio) realizado no último Europeu. A atitude e entrega da seleção no primeiro e mesmo segundo jogo foi exemplar, tendo em conta as equipas que “nos calharam em rifa”, mas o seu resultado acabou por ter reflexos negativos nas prestações seguintes e só quando a seleção se reencontrou é que foi visível de novo a qualidade técnica dos seus jogadores. Como é obvio, este Europeu leva-nos a repensar estratégias e adequar procedimentos que nos consigam projetar para a próxima participação.

3 – O que nos separa das seleções de topo?

A grande diferença para as seleções de outros países reside especialmente em dois vetores:

a) A dificuldade de os clubes encontrarem as melhores condições para os atletas treinarem e, não só em quantidade, como em qualidade, que possibilitem evidente evolução dos jogadores. Sabemos que é um enorme esforço para quem possui uma estrutura tão incipiente como a maioria de clubes possui, com falta de recursos humanos e financeiros;

b) Competir com países em que o BCR é uma prática, senão profissional, pelos menos profissionalizante, o que faz toda a diferença a nível de estrutura de apoio.

4 – Por outro lado, a seleção sub23 escalou ao pódio nos EPYG 2022, na Finlândia. Que significado tem esta medalha e que continuidade terá o projeto jovem do BCR?

A seleção de sub23 obteve, num curto espaço de tempo, uma qualidade de exceção, que muito nos apraz e o 3º lugar no EPYG 2022 é o reflexo evidente dessa qualidade. Evidentemente que projetamos a participação da seleção no próximo europeu do escalão, e, para isso, vamos trabalhar mais e melhor no futuro. Mas quero desde já frisar que este trabalho só será exequível se, na base, que são os clubes, houver também consequente aprimoramento técnico do trabalho desenvolvido. A alavancagem deste trabalho é essencial e não deve ser desbaratado este evidente potencial.

5 – Objetivamente, que passos pretende o CNBCR dar de modo a promover um aumento de competitividade da modalidade?

a) A FPB alterou de forma significativa o modelo de competição para a próxima época. Estamos cientes de que poderá não ser o modelo ideal, mas pensamos que estruturalmente é possível e trará evidente melhor competição. Numa primeira fase, competirão todos contra todos e, depois, na segunda fase, dividem-se em dois grupos, um com os melhores seis da 1ª fase e outro com as restantes equipas. Pensamos que terá reflexos positivos; por um lado, todos ficam cientes das suas qualidades e relativizam suas capacidades; por outro, na segunda fase, torna a competição mais exigente. Um vetor essencial para o desenvolvimento da modalidade a nível nacional é o aumento da carga de treinos nos clubes.

Sabemos que não é fácil a nível logístico, mas, por vezes, encontram-se soluções mais sustentáveis. Não é fácil arranjar pavilhões e mais horas de treino nos mesmos, mas também neste campo temos que inovar e encontrar outras formas que possibilitem aprimoramento técnico dos intervenientes, com escalas de trabalho individual.

b) Captação. Aqui está uma matéria que é urgente tratar, pois, caso tal não se verifique, estamos condenados ao fracasso a médio prazo e mais: desbaratamos todo o esforço despendido ao longo destes anos. Tem-se verificado no desporto adaptado um decréscimo de praticantes e em especial de jovens. Sejamos realistas: se não conseguirmos inverter esta tendência, o futuro será catastrófico. Ainda que no BCR se tenho verificado um aumento de praticantes, ele não é, por si só, um fator de acomodação.

É uma matéria de extrema importância tratar. O CPP [Comité Paralímpico de Portugal], em conjunto com as Federações, tem que lançar novas formas de captação e, mais que isso, consolidar as mesmas quando elas se verifiquem. O desporto escolar tem especial relevância neste objetivo de captação; não podemos praticar uma política que eu apelido de “toca e foge”. Ela tem que ser consecutiva e a nível nacional.

c) O aparecimento de novos clubes obriga a um trabalho moroso e desgastante, pois o resultado não é visível a curto prazo, mas está a ser feito. Tem um ritmo que desejaríamos mais rápido, mas tem sido evolutivo. Requer o especial apoio dos municípios portugueses e claro que será facilitado se na grande montra do BCR nacional competição do principal e seleções nacionais os resultados forem positivos.

O futuro está na mão de todos nós ligados à modalidade e no que fizermos por ela.

Competições
11 AGO 2022

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