“Cada treino, cada jogador, cada sucesso e cada inêxito são momentos que recordo com carinho e saudade”

Jorge Adelino Soares, figura incontornável do basquetebol português, em entrevista à FPB

Formação | Treinadores
23 JUN 2023

Jorge Adelino Soares, figura de proa do basquetebol português, com um percurso que fala por si enquanto treinador de formação, vai receber o “Prémio Carreira” no Clinic Internacional de Cantanhede.

Em entrevista à Federação Portuguesa de Basquetebol (FPB), o antigo técnico não escondeu o contentamento por este tributo, falou sobre o seu percurso na modalidade, explicou aquilo que sempre o deixou mais feliz na profissão e abordou a importância dos Clinics.

 

Como se sente com o prémio que lhe será entregue?
Estou, naturalmente, contente por se terem lembrado de mim e considerarem que eu sou merecedor deste prémio, uma vez que já estou fora da atividade de treinador há largos anos. Agradeço ao Professor Jorge Fernandes e à Escola Nacional de Basquetebol por esse reconhecimento.

Esperava este galardão?
Sabia da existência do reconhecimento da FPB e Escola Nacional de Basquetebol (ENB) a antigos treinadores que dedicaram a sua carreira à formação de jogadores jovens, no quadro do Clinic de Formação de Cantanhede.
Sabia que já tinham sido recordados outros treinadores, mas, sinceramente, não estava à espera de que o meu nome fosse agora o escolhido para ser incluído nessa lista.

Fale-nos um pouco sobre o seu percurso na modalidade. Como foi o seu trajeto?
Comecei a treinar em 1968, portanto com 18 anos, no Sport Algés e Dafundo, sendo ainda, nessa altura, jogador sénior do clube. Esta passagem de jogador a treinador era uma sequência normal no clube e no basquetebol desses tempos. Depois, pouco a pouco, comecei a sentir que a categoria de juvenis (sub16) seria aquela de que gostava mais e onde me sentia melhor como treinador. Destaco ainda um período de dois anos inesquecíveis, em que estive a treinar uma equipa de iniciados (sub14), que serviu para que ficasse claro serem estas as idades onde poderia desempenhar melhor a função de treinador. No início da década de 90 passei a treinar os juvenis do Sport Lisboa e Benfica, onde fiquei quatro anos e onde vivi uma experiência igualmente muito rica. Por escolha da FPB, fui indicado para Selecionador Nacional de cadetes (sub16), tendo desempenhado estas funções entre 1983 e 1989, encarando esta função numa lógica de desenvolvimento da modalidade, tendo tentado lançar projetos nacionais com vista à iniciação no basquetebol, com ligação direta às Associações distritais, aos clubes e aos seus treinadores. Deixei de treinar em 1996.

Que momentos da carreira guarda com mais carinho?
Quem gosta de treinar jovens coloca, em todos os seus atos, muito carinho e dedicação, para além do saber específico que é absolutamente necessário. Como tal, cada treino, cada jogador, cada sucesso e cada inêxito são momentos que recordo com carinho e saudade.

Pensa que o Clinic de Cantanhede é um momento especial do nosso calendário basquetebolístico?
Acompanhei o aparecimento do Clinic de Formação de Cantanhede com interesse e entusiasmo, pois é uma forma seletiva de intervir junto dos treinadores que querem ensinar os jogadores mais jovens. O facto desta iniciativa se manter depois de tantos anos é sinal inequívoco de que a ideia que esteve na sua origem estava certa.

Que conselhos dá aos treinadores mais jovens que compareçam em Cantanhede e noutros Clinics?
Coloquem sempre o jovem jogador no centro da vossa atenção e assumam sempre, sem dúvida alguma, que a sua aprendizagem, os seus interesses e necessidades, devem tornar-se no objetivo prioritário da vossa função.
Pensem que a formação de um jogador é uma tarefa complexa e demorada, que exige tempo e paciência, havendo uma sequência de intervenções que são distintas, mas igualmente importantes. Em cada decisão que tenham de tomar, em cada exercício que realizem, nas instruções que transmitam quando estão a corrigir, em cada substituição que façam num jogo, coloquem sempre em primeiro lugar os interesses e as necessidades dos jovens jogadores da equipa. Cada sessão de treino pode ser um excelente momento de formação para os treinadores, se refletirem sobre o que sucedeu, numa lógica de tentarem descobrir o poderiam ter feito melhor, quais as decisões tomadas que se revelaram boas medidas e as que precisam de corrigir em situações futuras. Nunca deixem de aprender e assumam uma postura humilde, de que há sempre muitas coisas que ainda não sabemos e de que precisamos para serem melhores treinadores de jovens.

 

Jorge Fernandes, diretor da ENB, explicou-nos a atribuição desta distinção a Jorge Adelino Soares: “Este prémio distingue os técnicos pelas suas carreiras, quer enquanto treinadores, quer enquanto formadores, e pelos contributos que deram ao basquetebol ao longo da vida, e que são referência para um enorme leque de treinadores. No caso do Jorge Adelino, é o seu papel decisivo no âmbito da formação de jogadores e de treinadores. Foi fulcral naquilo que são hoje os cursos de treinador. Estamos a falar de alguém que tem outra característica: é um exemplo, a melhor ferramente para qualquer treinador”, vincou.

 

Notas:

  • Na foto de capa desta notícia, podemos a ver a Seleção Nacional de cadetes masculinos em 1987, cujo selecionador nacional era Jorge Adelino Soares, segundo elemento em cima a contar da esquerda;
  • Abaixo mostramos a capa de um livro da autoria de Jorge Adelino Soares – “As Coisas Simples do Basquetebol”.

 

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23 JUN 2023

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