Jogadores marcantes: António Vilarinho

António Vilarinho, ex-libris da APD Lisboa, o mais longevo jogador do BCR nacional, tecnicista-nato, um dos onze míticos jogadores nacionais que participou nos Paralímpicos de 72, em Heidelberg, colocando assim a nação das quinas no mapa do Paralimpismo. O trajeto, pejado de êxitos e marcos inauditos, impõe o tom solene com que lavramos o perfil de Vilarinho, o apelido que pegou no BCR nacional.

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25 JUN 2017

Hoje falamos daquele que celebrizou os ganchos, dentro e fora da área restritiva, e fez parecer fácil lançar dos então 6,25, numa época em que marcar triplos em quatro rodas e a meia altura parecia digno de epopeia. Aos 70 anos, continua no ativo e a provar o impossível. 

 

 

Foi um dos muitos para quem a Guerra Colonial se revelou amarga, mas denota-se na voz o estoicismo da recusa em definir a vida por isso. Da Guiné, veio para o Centro de Reabilitação de Alcoitão, corria o ano de 1967, onde um fisioterapeuta dava os primeiros passos do BCR em Portugal. “Juntei-me a eles e comecei a praticar”, conta, sem conseguir precisar se a estreia na modalidade que trata por tu fora em 1968 ou 1969. Das palavras depreende-se o orgulho do pioneirismo, mas o reverso de ser dos primeiros comportava a total ausência de referências. “Nessa altura não havia nenhuma figura muito relevante, aprendíamos uns com os outros”, revela António, aludindo à sua experiência prévia à lesão, no futebol, como único suporte tático nesta segunda vida desportiva. Mais tarde, frisa, destaca a figura de Jorge Almeida, internacional português, ex-jogador e treinador da APD Lisboa e ex-Selecionador Nacional, que rotula de “um dos melhores jogadores no nosso país”. O estado embrionário do BCR em Portugal refletir-se-ia nos moldes da participação portuguesa, nos Jogos Paralímpicos de Heidelberg, Alemanha, em 1972 – a primeira em absoluto de atletas paralímpicos portugueses e a única até à data no BCR. Ainda sem ser sujeito a qualquer etapa qualificativa, a Seleção Nacional foi convidada a integrar a 2.ª divisão do certame Paralímpico, frente a Espanha, Canadá, Bélgica e Suíça. “Para nós era tudo novidade. Não tínhamos sequer conhecimento dos adversários. Milhares de atletas, para nós era outro mundo! Foi bom, porque tínhamos ainda mais incentivo para continuar”, narra titubeante António Vilarinho. A ‘estadia’ em solo germânico saldou-se por três derrotas (71-18 – Bélgica, 58-28 – Espanha e 56-26 – Canadá) e uma vitória (27-25 frente à Suíça). A nível nacional, depois de sair de Alcoitão, António Vilarinho viu o seu percurso profissional abrir-lhe outras portas na esfera desportiva. “Fui para a Venda Nova tirar o curso de formação de Desenhador de Construção Civil e lá consegui formar uma equipa”, contudo o desfecho não foi o desejado, uma vez que terminado o curso, a formação recém-criada não subsistiu. Seguiu-se uma etapa na AFDA, a Associação das Forças Armadas, até rumar ao emblema que todos lhe associamos, a APD Lisboa. Mais tarde, já dentro do novo milénio, teve ainda uma saída ilustrativa do seu dinamismo para criar a equipa do Barreiro, “Os Trovões”, regressando depois em definitivo à APD Lisboa. Lançador de excelência da linha dos 3 pontos e protagonista de ganchos espetaculares, aponta como momentos mais altos a experiência em Heidelberg 72 e o 1.º título com a APD Lisboa, na época 1999/2000, ao lado de Jorge Almeida e de Hugo Lourenço, que menciona em particular. Competidor sem limites, aos 70 anos António Vilarinho não abdica do que o move e assegura: “Isto já é um bichinho que se entranhou em mim. Enquanto tivermos uma pestana a mexer, vamos andando”.

 

Marco Gonçalves, internacional português, jogador do GDD Alcoitão, ex-APD Lisboa

O Vilarinho foi dos jogadores mais tecnicistas que conheci e uma das minhas referências quando comecei a jogar. Nunca vi ninguém a marcar tantos triplos como ele, apesar de o ter conhecido já com alguma idade, assim como os seus ganchos a partir da linha lateral, ou mais precisamente, de qualquer zona do campo! Também possui uma boa visão de jogo e qualidade de passe, que o tornaram num dos melhores jogadores que passaram pelo nosso campeonato.

 

Jorge Almeida, antigo internacional português, ex-jogador e treinador da APD Lisboa, ex-Selecionador Nacional

O Vilarinho era um jogador muito evoluído para a época, muito inteligente a jogar, muito bom tecnicamente, tendo como ponto forte o lançamento exterior, tornando-se conhecido (com todo o mérito) como o melhor lançador de ganchos de todos os tempos, quer dentro ou fora da área restritiva, sendo para mim um dos mágicos do BCR.

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25 JUN 2017

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