O que aproxima e separa BCR e Basquetebol convencional?

Ricardo Ribeiro, Paulo Correia e Marco Galego debateram o tema

Treinadores
30 MAR 2021

No final do mês de fevereiro, a ABA Associação de Basquetebol Albicastrense – dinamizou o I de vários clinics online em que uniu BCR e Basquetebol convencional, ao recrutar preletores de luxo de ambas as vertentes. Para muitos dos técnicos participantes, o evento formativo significou um contacto inédito com a expressão Paralímpica do Basquetebol. Ricardo Ribeiro, treinador da equipa sub14 masculina do Sporting Clube de Portugal, selecionador do mesmo escalão da Associação de Basquetebol de Lisboa, comentador na Sporting TV e professor de apoio à coordenação regional, bem como formador no desporto escolar, e Paulo Correia, treinador do Sport Algés e Dafundo, nos escalões sénior e sub18 masculino, aceitaram partilhar o impacto da experiência com os conteúdos técnicos de BCR ao lado de Marco Galego, selecionador nacional A da modalidade, coordenador da ABA (também operacionaliza o projeto do clube em âmbito escolar) e formador da ENBEscola Nacional de Basquetebol.

Sem uma ligação prévia ao BCR, nem mesmo na ótica do adepto, apesar da coincidência da partilha do local de treino com o GDD Alcoitão, “quando era treinador do CAQ [Clube Atlético de Queluz]”, Paulo Correia sinaliza a exigência extra para o treinador. “Acrescenta às preocupações que temos no Basquetebol convencional o controlo da cadeira, a especificidade dos bloqueios, os cortes, o treino em si”, salienta, antes de rematar que “não esperava que as coisas fossem tão intensas”.

Ricardo Ribeiro, no seu testemunho, brande repetidamente a atenção ao detalhe enquanto traço de identidade própria desta forma de jogar Basquetebol. “O espaço ocupado pela cadeira é maior. Cada metro é decisivo, na orientação de um bloqueio para libertar o lançador, no bloqueio cego, no trabalho de 2×2”, perceção a que atribui o potencial de transferência para a versão original do jogo. “Gostei muito de uma das apresentações que falou só do 2×2, até tirei coisas úteis para o nosso Basquetebol. Falou-se no porquê de fazer o bloqueio com a cadeira de costas, que permite logo desfazer de frente para o cesto. Esse pormenor foi muito interessante. A principal diferença é o espaço e a mobilidade. O trabalho do movimento sem bola penso que é o que condiciona mais o jogo”, conclui.

Ainda no campo técnico, Paulo Correia também se deteve prolongadamente na complexidade da situação de jogo. “Abordo muito o 2×2 ao nível da formação. Na passagem dos bloqueios, temos ali uma determinada preocupação em mostrar como contornar; na cadeira de rodas, é muito mais complicado especificar isso. Quando voltar ao campo e tiver de trabalhar o 2×2 e o 3×3, há qualquer coisa que esta formação irá despertar em mim. Estou curioso para ver as set plays do 5×5, no BCR, em particular a movimentação do lado contrário”, explicita.

No lugar privilegiado da discussão, uma vez que treina BCR e Basket convencional, Marco Galego relembra a primeira abordagem do CP Mideba, em 2014, para assumir as funções de técnico principal do histórico emblema da modalidade situada na cúpula na escala de popularidade do movimento Paralímpico. “Precisei de quase um mês para decidir. Sempre assisti aos treinos da equipa de BCR, porque a minha equipa treinava a seguir. Então, duas coisas me vieram à cabeça: é o maior desafio da minha vida; vou entrar num meio que não conheço”, recorda o treinador elvense, convicto dos ganhos colhidos da aposta quase cega. “Sou melhor treinador desde que cheguei ao BCR. Fez com que tivesse de estudar intensivamente o jogo e vê-lo de uma maneira completamente diferente”, afiança.

Da confluência de ideias, ressaltou a definição da natureza peculiar do BCR por parte de Ricardo Ribeiro. “Tens que fazer várias coisas ao mesmo tempo, o que denota uma grande capacidade cognitiva e motora. Já com a bola não é fácil não olhar para o chão. Estares preocupado com o adversário, com a bola, com o espaço, com as cadeiras e com as linhas do campo, requer jogadores inteligentes”, sumário que nos encaminha para uma compreensão global do jogo e intercâmbio entre as suas duas disciplinas, sem paternalismo ou menosprezo.

Treinadores
30 MAR 2021

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