“Quero ser um exemplo dentro de campo para as mais novas”
Entrevista a Sofia Ramalho
Atletas
13 OUT 2020
É uma das caras novas do plantel do SL Benfica, apesar de já ser bem conhecido nos meandros da modalidade. Em 2015 disse um “até já” à competição, mas nunca se despediu do basquetebol. Falamos de, e com, Sofia Ramalho Gomes, atleta do SL Benfica, que cinco anos depois está de regresso às quatro linhas. Além de voltar à competição, a ex-internacional fala-nos das expectativas para a nova época, os desafios da última temporada e dos projetos em que está envolvida.
Foram cinco anos sem competição, mas sempre com o basquetebol bem presente na tua vida. Para além do projeto “Timeout” da FIBA, do qual fazes parte, também estás envolvida no projeto da “AMINGA” em Cabo Verde. Fala-nos um pouco destes dois projetos.
Foram cinco anos sem basquetebol, volto agora, depois de no ano passado ter estado com funções diferentes que também gostei imenso de desempenhar, mas o “bichinho” de estar em campo nunca desapareceu. Relativamente aos dois projetos em que estou envolvida, posso dizer que são muito ambiciosos e que os quero concretizar. Um deles é o programa “Time-out” da FIBA que ajuda os internacionais de cada país a fazerem a transição da carreira. Há quem ainda esteja a jogar como é o meu caso, há quem tenha deixado há pouco tempo, mas a ideia é ajudar quem está nesta fase de transição, sabermos o que fazer. Infelizmente acontece muitas vezes um jogador deixar de jogar e perder um bocado o rumo, não saber o que fazer. Posso dizer que comigo aconteceu o mesmo. Sempre soube que queria continuar ligada à modalidade, no entanto ia fazer o que? Como? Quando é que começaria? Este programa ajuda-nos a entender isso mesmo.
Além dos desafios pessoais, também gosto muito desta vertente pessoal, porque também me dá vontade de ajudar os jogadores mais jovens para que eles comecem desde cedo a pensar nessa transição. Além da vertente da FIBA mais relacionada com a organização de eventos e marketing, também há a vertente universitária que nos ajuda a lidar melhor com as pessoas algo que é muito importante. Identificar comportamentos, coaching… dá-nos ainda oportunidade de ver o desporto de vários pontos de vista, todos eles diferentes. Falamos muito da “dual career”, algo que também está muito em voga. São estas três áreas deste programa da FIBA que me têm fascinado e sinceramente ainda não consegui escolher uma delas. Acaba por ser tão vasto e é tanta informação que ainda não me consegui focar e escolher apenas numa das áreas. Quero dar os parabéns à FIBA e à FPB, fazendo votos que este seja um programa para continuar.
Relativamente à AMINGA, trata-se de um projeto familiar onde eu, o Beto e as irmãs dele juntamos esforços. É um projeto que se foca no desenvolvimento do desporto jovem nos países mais necessitados. O nosso primeiro campus será em 2021, em Cabo Verde, na ilha de São Vicente, e tem três modalidades incluídas. O basquetebol, o andebol e o voleibol. Eu e o Beto temos uma forte ligação ao basquetebol, as minhas cunhadas estão ligadas ao andebol e ao voleibol. Além do melhoramento das condições de treino, de transmitirmos novos métodos de trabalho e darmos formação, também temos a vertente educacional. Queremos aulas de inglês, de informática, sessões de autoconhecimento para os miúdos. É um projeto muito ambicioso porque dependemos muito das ajudas externas. Somos uma organização sem fins lucrativos, portanto estamos dependentes das doações. Começamos uma campanha de “fundraising” que vai ajudar na concretização do projeto e que certamente facilitará a vida a todos aqueles que quiserem ajudar. Aceitamos também doações materiais, dentro do âmbito das três modalidades, para ajudar os clubes locais.
A tua última época foi em 2014/15, também no SL Benfica. O que é que mudou para voltares a sentir desejo de jogar ao mais alto nível?
Nunca deixei de desejar voltar. Na temporada 2014/15 tomei uma das decisões mais difíceis da minha vida, apesar de ter muita certeza do que queria fazer e saber que o que importava naquele momento era a família e a minha filha, foi difícil. Foi um projeto com o qual me identificava muito. Tinha um orgulho enorme nas subidas de divisão e na chegada à Liga, até porque estávamos a fazer um bom campeonato. Estava muito confiante para essa época e claro que fiquei sempre com esse sabor amargo por ter deixado a equipa em janeiro. Foi a minha decisão e acho que foi a mais acertada. No entanto, a vontade sempre ficou cá. Nunca disse que tinha “arrumado as botas” definitivamente. O ano passado fui adjunta na equipa e sempre demonstrei vontade de voltar às quatro linhas. Este ano houve essa possibilidade e eu com a vontade que tenho aceitei. Estou super feliz por estar de regresso.
A Sofia Ramalho de 2014/2015 marcou 18 pontos, conquistou 4.7 ressaltos e liderou nas assistências com 4.5 em 13 jogos na Liga Feminina. O que é que a Sofia Ramalho pode dar à equipa esta temporada?
Apesar dos meus quarenta anos, a idade é um número. Sinto-me em boa forma, claro que estive muito tempo parada, porque em competição tudo é mais exigente, mas aquilo que posso dar à equipa vem muito da minha experiência. Basicamente é fazer o que sempre fiz, ser um exemplo dentro de campo para as mais novas e para todas as minhas companheiras de equipa. Posso garantir que vou estar a 200%, quero ser um exemplo a seguir. Estou no Benfica para ajudar e, quem sabe, ser campeã novamente.
Na temporada que passou foste um dos elementos da equipa técnica de Isabel Ribeiro dos Santos, mas este ano vais estar dentro das quatro linhas. Que ensinamentos retiraste da temporada que passou?
Foi uma temporada completamente diferente, uma função diferente. É algo que me vejo a fazer no futuro, apesar do papel da treinador adjunta é mais limitado, mas nem por isso menos desafiante. Temos de criar um equilibrar entre aquilo que é o corpo técnico e o plantel, conhecer melhor o perfil das jogadoras e comunicar melhor com elas. Foi uma temporada que não acabou, que foi estranha, mas o tempo que estive com a equipa foi muito bom.
Que expectativas reservas para esta temporada, tanto a nível coletivo, como individual?
Sou sempre muito exigente e ambiciosa. Mentiria se não dissesse que queria ser campeã. Esse é o objetivo, sabendo que este ano vai ser especialmente difícil e diferente. Posso garantir que vamos dar o máximo todas as semanas e todos os jogos. Queremos somar o máximo número de vitórias para atingirmos o campeonato. Aquilo que espero é isso, tanto a nível individual, como coletivo.